Título: Fortuna amealhada no boom das ações nos anos 70
Autor: Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Finanças, p. C2

A resposta à pergunta sobre o que Antonio José Carneiro, o Bode, está fazendo atualmente é sempre a mesma. Ele está rico. A fortuna pessoal do ex-banqueiro, segundo estimam colegas e amigos do mercado financeiro, já teria superado R$ 1,5 bilhão. Grande parte desses recursos foi obtida em 1997, quando Bode e seu sócio Ronaldo Cézar Coelho (hoje secretário municipal de Saúde no Rio) venderam os 50% que tinham no banco Multiplic e na financeira Losango ao inglês Lloyds Bank, que já era dono dos outros 50%. Na época, ele teria recebido perto de US$ 300 milhões. A jogada de mestre coroou uma carreira bem-sucedida no mercado financeiro. Ele iniciou a vida como operador de pregão. Na década de 70, quando o mercado acionário viveu um boom, Bode e o amigo Cezar Coelho amealharam recursos suficientes para comprar a pequena corretora Multiplic. Ampliaram suas atividades para o então movimentado open market e criaram a financeira Losango, que mais tarde viria a ser a mais disputada noiva entre as empresas de crédito ao consumo do Brasil e acabou ficando com o HSBC. No Multiplic, Bode e Cezar Coelho faziam uma dupla interessante. Enquanto o primeiro era avesso a badalações e tinha um círculo restrito de amigos, Cezar Coelho -irmão do árbitro de futebol - dava as caras. Depois da venda ao Lloyds, um preferiu os ares de sua fazenda do Retiro, em Três Rios, uma das mais bem restauradas do país. Outro, trilhou a carreira política. Foi deputado federal pelo PSDB e depois secretário de Saúde do Rio. Embora recluso, Bode não está aposentado. Na diretoria do Jockey, chegou a negociar um empréstimo do BNDES, de R$ 7 milhões, no governo passado. O dinheiro não saiu porque a informação vazou para a imprensa e houve protestos de quem considerava que a função do banco não era financiar clubes da alta sociedade. Também chegou a investir em marketing esportivo e tornou-se detentor de uma grande participação na Ipiranga Petróleo, adquirida ao longo de cinco anos. Sua idéia era, junto com a Odebrecht, comprar o controle da empresa. As disputas familiares na petroquímica impediram que o projeto de Bode desse certo. Ele acabou se desfazendo da participação. Os 10% do capital que lhe restaram foram alienados em leilão na bolsa, no início deste ano, por polpudos R$ 176 milhões. Bode continua investindo em empresas. Ele seleciona companhias com posições estratégicas em seus setores e vai adquirindo suas ações na bolsa, aos poucos. Em determinado momento, passa a ser um sócio com poder de facilitar ou dificultar negociações. "Bode tem o mercado de ações no sangue", brinca um colega. (RB)