Título: Berzoini perde favoritismo
Autor: César Felício, Caio Junqueira, Patrick Cruz e Ar
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2005, Política, p. A7

Partidos Quórum de eleição petista despenca e resultado é imprevisível

O candidato do Campo Majoritário à presidência do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), perdeu o favoritismo para ganhar a vaga, diante do baixo quórum de votantes no segundo turno realizado ontem. Seus próprios aliados admitem que a vitória situacionista, se ocorrer, terá uma diferença muito apertada em relação ao opositor, deputado estadual gaúcho Raul Pont (Democracia Socialista). A previsão do Campo Majoritário é de que a distância entre um e outro não ultrapasse cinco pontos percentuais, o que representaria menos de 3 mil votos. Se a vitória de Berzoini se confirmar, estas circunstâncias devem fragilizá-lo como dirigente. No caso de Pont surpreender e vencer, terá que lidar com um diretório nacional francamente contrário às suas posições: a DS teve menos de 15% dos votos no primeiro turno. Os primeiros resultados mostravam uma tendência de queda de aproximadamente 50% dos votantes do primeiro turno na cidade de São Paulo, maior colégio eleitoral do partido, onde Berzoini conseguiu unir todas as correntes do Campo Majoritário em torno de si. O baixo comparecimento não foi só paulistano. A queda do quórum no reduto de Berzoini só não dá a Pont a condição de favorito porque o número de votantes foi pequeno em Minas Gerais, um dos Estados em que o deputado gaúcho apostava para reverter sua situação desfavorável. Segundo avaliação do Campo Majoritário, houve redução de 30% no número de votantes mineiros. A DS entretanto, acha que Pont irá conseguir superar Berzoini devido à vantagem que deve abrir no Rio Grande do Sul, Bahia, Santa Catarina e Rio, mesmo com queda generalizada de quórum, em comparação com a eleição na primeira rodada. Os primeiros resultados no Rio Grande do Sul , por exemplo, não eram animadores para Pont: apenas 2,4 mil petistas gaúchos votaram em Porto Alegre, ante o dobro no primeiro turno. Mas na Bahia, terra do articulador político do governo, o ministro de Assuntos Institucionais Jaques Wagner, a expectativa no fim do dia era de quórum relativamente alto: uma queda de apenas 10% em relação ao contingente que votou no primeiro turno. A união da Articulação de Esquerda com a Democracia Socialista na Bahia deve garantir vantagem de Raul Pont no Estado na disputa com Berzoini pela presidência nacional da legenda. "O Campo Majoritário não existe mais aqui", afirmou o dirigente da AE e virtual presidente eleito do diretório baiano, Marcelino Galo, no fim da eleição. No Distrito Federal, reduto do Campo Majoritário, a queda do quórum foi de 48%. Compareceram para votar 3.836 mil filiados, ante 7,4 mil no primeiro turno. Berzoini teve 2.065 votos (54,6%) e Pont, 1.715 (45,3%). Foram registrados 27 votos brancos e 29 nulos. O ausente mais ilustre do primeiro turno, entretanto, apareceu: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva votou em Berzoini no escritório regional do PT em Brasília. Lula preferiu não falar com a imprensa e limitou-se a comentar com os fotógrafos que queria ver o jogo de futebol da seleção brasileira contra a Bolívia, que aconteceu ontem. O resultado final do segundo turno petista deverá ser conhecido até, no máximo, quarta-feira. Para a eleição no segundo turno, não há exigência de quórum mínimo. Pont tenta articular uma reunião no dia 17 entre todas as tendências que disputaram o primeiro turno contra Berzoini para negociar em posição de força com o Campo Majoritário a composição da cúpula do partido. No dia 21 de outubro, haveria uma reunião geral para a repartição dos cargos. "A unidade no PT passa por entendermos que 170 mil filiados votaram no 1 turno nos candidatos que se identificavam com as propostas de mudanças na condução do partido, do programa de governo e de alianças", disse ao votar, segundo o portal do PT na internet. Sem consenso interno sobre quem irá representar a corrente no Diretório Nacional, o Campo Majoritário não quer reunião conjunta alguma no dia 21. Pretende se reunir internamente, no fim de semana de 22 a 23 de outubro, durante a última reunião do Diretório Nacional atual, que deverá expulsar o ex-tesoureiro Delúbio Soares da sigla. Durante o fim de semana, procuraria as outras tendências para o rateio. "Nosso drama é que perdemos sete cadeiras no Diretório e teremos que decidir quem fica e quem sai. Se nós temos essa dificuldade, parece difícil acreditar que a DS consiga articular todas as demais correntes do PT antes de nós para nos apresentar algum prato pronto", disse o secretário nacional de Organização do partido, Gleber Naime. Na última eleição direta, em 2001, quando a chapa do deputado federal José Dirceu foi eleito no primeiro turno com 52% dos votos, o Campo Majoritário franqueou apenas 4 dos 21 assentos na Executiva para dissidentes: Jorge Almeida e Heloísa Helena, que hoje estão fora do partido, Joaquim Soriano (DS) e Valter Pomar (Articulação de Esquerda). Agora, a situação será outra. "O fundamental é ter todas as correntes do partido assumindo funções e responsabilidades", disse Soriano. Ainda ontem, ao votar, Berzoini ofereceu a Pont um lugar na Executiva Nacional. Segundo Naime, este posto poderia ser o segundo na hierarquia petista, que é a secretaria-geral. "Esta é uma tradição do partido. O segundo colocado fica com a secretaria-geral", disse Pont, dando a entender que, na hipótese de sua vitória, Berzoini permanecia na função que hoje já ocupa. (Colaborou Heloísa Magalhães, do Rio)