Título: CSN acirra disputa em aço pré-pintado
Autor: Natalia Gómez
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2005, Empresas &, p. B6

Siderurgia Novos investimentos ameaçam a Tekno, companhia que atuou sozinha no mercado durante 20 anos

Depois de dominar sozinha o mercado de aços pré-pintados durante 20 anos, a paulista Tekno está enfrentando a concorrência feroz de uma gigante nacional do aço, a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), que entrou nesse setor em 2003. O poder de competição é desigual: a Tekno teve receita líquida de R$ 115 milhões em 2004; a companhia controlada pela família Steinbruch chegou a R$ 9,8 bilhões. A participação da Tekno no segmento, que passou de 100% para 60%, está ainda mais ameaçada pelos investimentos previstos pela siderúrgica, que tem planos de instalar nova linha no ano que vem para produzir telhas de aço pré-pintadas. Com isso, sua capacidade atual de 150 mil toneladas ao ano vai aumentar para 250 mil. As telhas são a nova aposta da CSN, que tem hoje como principais clientes para o pré-pintado os setores de linha branca e de construção civil. O material vai competir com o amianto e a cerâmica, que hoje dominam esse segmento. O diretor comercial da CSN, Luis Fernando Martinez, explica que a companhia tem grande interesse no aço pré-pintado devido a seu alto valor agregado. Enquanto uma bobina de aço sem pintura custa US$ 620, a pré-pintada chega a valer US$ 1,3 mil, segundo ele. "Mesmo assim, o cliente final tem uma economia de até 15% ao eliminar a etapa de pintura", diz o executivo. Para alavancar sua produção, que ainda está abaixo da capacidade na CSN Paraná, em Araucária (PR), a CSN pretende conquistar mercados que ainda utilizam o processo tradicional, no qual a bobina de aço é vendida diretamente ao fabricante sem nenhuma pintura. "Um dos objetivos é conquistar os fabricantes de fornos de microondas", explica Martinez. O mercado brasileiro consumiu em 2004 cerca de 100 mil toneladas, mas tem um grande potencial de crescimento porque o processo ainda não é amplamente utilizado pela indústria. Outras empresas de linha branca estão no foco da CSN, que "roubou" parte dos pedidos da Multibrás, principal cliente da Tekno. "Tivemos uma grande perda ao dividir a Multibrás com a CSN", relata Valter Sassaki, diretor financeiro da Tekno. O diretor explica que, ao contrário da sua concorrente, sua empresa não é fabricante de aço, mas especializada no processo da pré-pintura. Entre os fornecedores do produto para a Tekno estão a Usiminas e a própria CSN. Diante da concorrência cada vez mais acirrada no aço, a Tekno espera manter seus bons resultados em uma área onde a CSN não atua - a de latas de alumínio. Para isso, ela conta com uma linha exclusiva para pintar tampas de latas da Novelis, que recebeu investimentos de US$ 3 milhões em julho para aumentar a produtividade em 40% . Nessa área, a única empresa que concorre com a Tekno é a Alcoa, que tem uma linha para telhas de alumínio. Mesmo assim, a fatia de mercado da americana não passa de 10%, diz Sassaki. O que pode dificultar o crescimento nesse setor é o fato de a Novelis ser a única fabricante de latas de alumínio que produz suas tampas no Brasil. As demais trazem as peças do exterior. Outro nicho em que a Tekno pretende crescer é o de luminárias, fabricando um filme que reflete a luz das lâmpadas fluorescentes. Segundo Sassaki, há mais projetos em desenvolvimento, mas ainda são confidenciais. Mesmo com essas perdas, a Tekno acredita que a entrada da CSN pode contribuir para ampliar seus negócios, uma vez que mais um fabricante traz mais segurança para os clientes. "Nenhuma empresa gosta de ficar nas mãos de um só fornecedor", explica on executivo. Ao fazer a análise dos seus investimentos, o fundo Tarpon Investimentos, que tem uma participação acionária na Tekno, avalia que a empresa ainda é uma boa opção de investimento porque possui "baixíssimo risco e a alta geração de caixa e dividendos". Diz que a Tekno tem adotado uma postura comercial mais agressiva, buscando a captação de novos clientes, o que pode compensar algumas perdas trazidas pela entrada da CSN. Em sua análise, o fundo aponta que a negociação com a Multibrás foi muito difícil porque a siderúrgica atuou em um patamar de preços muito abaixo do praticado no mercado. Isso inviabilizou qualquer contra-proposta.