Título: Socialistas portugueses vivem "ressaca" eleitoral
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2005, Brasil, p. A2

Ainda imerso nos efeitos da crise política brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realiza a segunda visita oficial a Portugal num momento de "ressaca socialista", devido ao resultado das eleições municipais portuguesas, realizadas dia 9. O Partido Socialista (PS), do presidente Jorge Sampaio e do primeiro-ministro José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, foi derrotado pelo Partido Social Democrata (PSD). Os sociais-democratas vão controlar as principais cidades de Portugal, como Lisboa, Porto e Sintra. Numa situação similar à brasileira, a esquerda vive um momento de desgaste em Portugal, por conta da realização de reformas estruturais, sobretudo da Previdência. Há também uma descrença generalizada com a classe política. Analistas políticos locais atribuem a derrota da esquerda ao discurso econômico excessivamente moderado e alinhado aos organismos internacionais, aliado ao aumento de impostos - posturas contraditórias ao discurso desses partidos no passado. Sócrates, por exemplo, é o principal defensor e condutor do Plano de Estabilidade e Convergência (PEC) de Portugal, e conta com auxílio do governo da Alemanha para a concretização das metas de austeridade fiscal. Um exemplo do descontentamento no país é a greve geral dos enfermeiros, que não aceitam que o prazo para o direito à aposentadoria passe dos 57 anos para 65 anos. Será o primeiro encontro de Lula com Sócrates. Sucessor de José Durão Barroso (do PDS), o atual primeiro-ministro admitiu que as expectativas do PS nas eleições não foram confirmadas. Ele se recusou, no entanto, a vincular o resultado do pleito às eleições presidenciais de 2006. "O que estava em causa não era o governo, eram as Câmaras municipais", declarou o primeiro-ministro à imprensa local. A análise feita por especialistas em Portugal, no entanto, é que o resultado ameaça a eleição de Mário Soares à presidência no próximo ano. Além da ascensão do PDS, tiveram êxito nas eleições locais os chamados "candidatos independentes ou dissidentes", que não se vinculam diretamente à imagem das legendas. Soares, que já presidiu Portugal por duas vezes - em 1986 e 1991 -, fez uma gestão de coalizão inovadora e vai concorrer novamente com o apoio de Sócrates. O Partido Socialista, no entanto, terá um candidato dissidente: Manuel Alegre, que era amigo de Soares. As eleições à presidência serão disputadas por pelo menos seis candidatos. O presidente Lula e Sócrates estarão juntos hoje no seminário "Oportunidades de Novos Negócios de Investimentos entre Brasil e Portugal", que faz parte da 8ª Cimeira entre os dois países. O presidente chegou na noite de ontem ao Porto. Acompanham Lula na visita os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência da República), Gilberto Gil (Cultura), Fernando Haddad (Educação), e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, representando o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. (MLD)