Título: Berzoini busca apoio de derrotados para governar PT
Autor: César Felício e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2005, Política, p. A5

Partidos Candidato do Campo Majoritário deverá ter vitória oficializada hoje, com o último boletim

O deputado federal Ricardo Berzoini assumirá a presidência nacional do PT no dia 22, ao final da última reunião do atual Diretório Nacional, com um triplo desafio: pacificar a sua própria corrente, o Campo Majoritário, aliar-se com setores derrotados na eleição interna, para formar maioria na cúpula do partido, e resgatar a desgastada imagem do petismo em razão da crise política. As correntes derrotadas tentam fazer valer os 58% de votos que tiveram no primeiro turno da eleição interna, em uma reunião agendada para o dia 17, em que procurarão estabelecer uma corrente comum. As primeiras declarações do novo presidente, que alcançou na terça-feira uma frente de 7 mil votos sobre o opositor Raul Pont, impossível de ser tirada, mostraram a intenção de compor com a esquerda. Berzoini afirmou ontem que a militância do partido critica os atuais parâmetros do regime de metas inflacionárias e o ritmo da queda da taxa de juros. É uma primeira demarcação de distância em relação à tese da sua chapa, que defendia a incorporação da política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no programa de governo. "Berzoini conseguiu 34 das 83 cadeiras no Diretório Nacional e precisa buscar as dez que faltam para a maioria entre os dissidentes, críticos à linha do Planalto", afirmou um dos integrantes da chapa do Campo Majoritário, o vereador paulistano Paulo Teixeira. O foco de Berzoini deverá ser a aproximação com o Movimento PT, do qual faz parte o líder do governo no Congresso, Arlindo Chinaglia (SP), a Articulação de Esquerda e a tendência PT de Luta de Massas. O líder da Democracia Socialista, Raul Pont, será convidado a assumir a vice-presidência ou a secretaria-geral da sigla, mas não há ilusões sobre a possibilidade de uma linha comum de atuação. Pont estará em oposição ao novo presidente. A aproximação de Berzoini com as tendências derrotadas, porém, dependerá da disposição do Campo em abdicar dos cargos mais importantes da Executiva. Atualmente, o grupo situacionista está com 17 dos 21 postos da Executiva. O trunfo do Campo Majoritário é a desunião das outras tendências, que foram incapazes de se organizar em uma chapa única. Já há disputa pela secretaria-geral entre as principais tendências. O Movimento PT lançou o nome de Romênio Pereira, atual vice-presidente, para o cargo de secretário-geral, o segundo mais importante. A Democracia Socialista, fortalecida com a disputada eleição no segundo turno, também reivindica o cargo para Raul Pont. Essas divergências deverão dominar a reunião da terça-feira. Se atualmente o Campo tem 17 vagas na Executiva, a estimativa das correntes minoritárias é de que, na nova composição, fique com 11. Por ora, o consenso entre elas é de que o Campo, apesar de ter ganho as eleições, saiu politicamente derrotado com a pulverização dos votos entre os demais grupos, razão por que não deve mais ser considerado majoritário no partido. Essas tendências também rechaçam qualquer possibilidade de composição com o grupo majoritário para a formação de uma nova maioria no partido. Para a deputada Maria do Rosário (RS), do Movimento PT, tendência mais próxima e primeiro alvo de uma manobra de aproximação, essa hipótese está descartada. A tendência da parlamentar irá se esforçar para deixar a direção petista sem hegemonia. "O Movimento não trabalha pela lógica de uma nova maioria. Não teremos alinhamento automático nem à esquerda nem ao Campo." A reunião do Campo Majoritário para decidir a sua composição no Diretório Nacional será no dia 21 e não deverá ser tranqüila. Dos 100 candidatos da Chapa, haverá vagas para 34. Alguns estão excluídos pelo envolvimento na crise política, entre eles o deputado José Dirceu, que enfrenta processo de cassação. A presença será garantida para os ministros e assessores de Lula, como Antonio Palocci Filho, Jaques Wagner, Luiz Dulci, Patrus Ananias e Marco Aurélio Garcia, prefeitos de capital, como Fernando Pimentel e Marcelo Déda, os candidatos ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante e Marta Suplicy, além do próprio Berzoini. Para as outras 24 vagas, a disputa será intensa. Dentro do Campo, há divisões sobre garantir ou não a legenda aos deputados que poderão renunciar ao mandato para escapar do processo de cassação. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e dirigentes estaduais, como o presidente do PT alagoano, o deputado estadual Paulo dos Santos, querem a retirada de legenda. Outros dirigentes, como o deputado federal Carlito Merss (SC), o presidente do PT do Distrito Federal, Chico Vigilante, e o atual secretário de Organização, Gleber Naime, preferem transferir para as direções estaduais a decisão, o que deve garantir a candidatura na maior parte dos casos. Berzoini se inclina pela segunda corrente. Ao falar sobre o tema, ontem, afirmou em entrevista à rádio "BandNews" que "os diretórios regionais vão examinar caso a caso".