Título: Moody's melhora nota de risco do Brasil
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2005, Finanças, p. C8

Credibilidade Maior Agora todas as maiores agências de classificação colocam o país em perspectiva positiva

A agência internacional de classificação de risco de crédito Moody's Investor Service elevou ontem a nota soberana do Brasil, afirmando que a vulnerabilidade do país diminuiu com a melhora do perfil da dívida e a estabilidade na condução da política econômica. Investidores consideram que as agências estão "atrasadas" na classificação brasileira. Mesmo com a elevação da nota ontem, o rating do país ainda está dois níveis abaixo de "investment grade" (risco considerado menor, ou não-especulativo). A nota brasileira em moeda estrangeira para bônus internacionais subiu de "B1" para "Ba3" e para depósitos, de "B2" para "B1". A nota atribuída à dívida em reais continuou em "Ba3". Todas as classificações têm perspectiva "positiva", o que sinaliza a possibilidade de novos upgrades. A Moody's afirma que há sinais de uma "mudança nos fundamentos do setor exportador" e que o forte crescimento das exportações vem provocando redução nos indicadores de solvência externa. "Mudanças estruturais no setor produtivo aumentaram a competitividade do setor exportador, que é diversificado em seus mercados e produção, o que reduz o risco de choques externos relacionados a mudanças no cenário internacional", afirma a análise divulgada pela agência. Também são citados a redução da sensibilidade da dívida pública à flutuação da taxa de câmbio e a manutenção de superávits primários suficientes para reduzir a relação entre dívida e PIB. Alguns investidores e analistas de América Latina consideram que a elevação do rating devia ter ocorrido antes. "Há algum atraso no movimento das agências", diz o diretor do banco UBS, Michael Gavin. O diretor do fundo de investimentos Pimco, Mohamed El-Erian, havia previsto na segunda-feira, em análise aos clientes, a elevação dos ratings do Brasil e da Rússia, dizendo que em sua opinião esse movimento já "deveria ter ocorrido faz tempo". A melhor notícia recente da economia brasileira, para o executivo, é o superávit comercial recorde de US$ 41 bilhões nos 12 meses anteriores a setembro. Na terça-feira, outra agência, a Fitch Ratings, também já tinha melhorado suas estimativas para o Brasil: mudou de estável para positiva a perspectiva da nota brasileira, sinalizando a possibilidade de uma elevação próxima. Se a Fitch elevar mesmo o rating do país, hoje de "BB-", ainda serão necessários de dois upgrades para chegar a grau de investimento. O Brasil deve ter a nota elevada se saírem novos números positivos de exportações ou uma redução de juros que garanta crescimento econômico de no mínimo 3,5%. "A melhora nos indicadores de solvência externos brasileiros é impressionante e deve continuar", disse o diretor de ratings da América Latina da Fitch, Roger Scher. A agência citou um indicador que havia sido mencionado pelo governo brasileiro como um sinal de redução do risco, o da dívida externa líquida sobre receita externa líquida. A Fitch prevê que esse indicador caia abaixo de 100% este ano, ante 308% em 1999, ano da desvalorização cambial. Mas o percentual ainda supera a média de 56,1% de países com o nível de risco imediatamente superior ao brasileiro ("BB"). A Fitch elevou a estimativa de crescimento do PIB no ano que vem, de 3,2% para 3,5%, prevendo uma redução mais rápida de juros daqui para frente. Outra notícia positiva, segundo o diretor Roger Scher, foi a eleição do petista Aldo Rebelo como presidente da Câmara, considerada uma vitória do governo em meio à crise política. Para Scher, será importante observar se o presidente Lula conseguirá manter seus vetos a emendas feitas à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), evitando reduzir o superávit fiscal.