Título: Planos de previdência devem ganhar mais sofisticação
Autor: Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2005, EU &, p. D2

Aposentadoria Fundos poderão aplicar em carteiras de diversas categorias, trazendo mais dinâmica para um setor com patrimônio superior a R$ 4 bilhões

Os fundos de previdência chegam a uma nova fase de estruturação. A partir da agora, os planos terão uma cara mais similar à dos fundos de investimento, com a existência de carteiras que investem em outros fundos. Dessa forma, o setor pode ser mais dinâmico na criação de produtos diferenciados, além de ter uma gestão mais flexível e, possivelmente, mais barata. As maiores seguradoras, Bradesco, Itaú, Brasilprev e Caixa Econômica já adaptaram algumas de suas carteiras para atender à nova demanda. Pela nova regra, o PGBL e o VGBL podem funcionar na estrutura de fundos de investimento em cotas (FICs) e de carteiras que recebam aportes exclusivamente desses fundos (FI). Assim, as empresas têm maior facilidade para lançar produtos diferenciados, com distinções entre risco, público-alvo e taxas. Hoje, as carteiras investem em alguns poucos fundos-mãe - em geral distribuídos entre renda fixa, DI, ações e multimercados. Dessa forma, fica menor o risco de um plano de previdência ficar com volume pequeno em carteira, o que em muito casos prejudica a rentabilidade dos investidores por causa da baixa diluição dos custos do fundo. Na mesma linha, se houver maior concentração de recursos em grandes fundos, essas despesas podem cair. O presidente da Bradesco Vida e Previdência, Marco Antonio Rossi, diz que essa mudança será percebida por um ligeiro aumento na própria rentabilidade dos planos. Osvaldo do Nascimento, presidente da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp), diz que agora fica mais fácil adaptar os planos de previdência a diferentes perfis de risco. Desde o fim de setembro, quando as seguradoras aderiram à regra, tornou-se mais viável elaborar fundos com diversas escalas de risco, com mais ou menos renda variável, por exemplo, explica Nascimento, também diretor de Vida e Previdência do Itaú. O gestor tem mais flexibilidade também para mudar o perfil da carteira em fundos ativos, alterando apenas o porcentual investido neste ou naquele fundo-mãe. Para as seguradoras menores, a mudança poderá trazer vantagens. Elas têm dificuldade para diluir custos fixos e, se puderem investir em fundos-mãe de grandes seguradoras, poderão ganhar competitividade, diz Marcelo D'Agosto, sócio do site Fortuna. João Marcelo Máximo Ricardo dos Santos, diretor da Susep, explica que as mudanças visavam desburocratizar o mercado. Serão mais simples os nomes dos planos, prevê. "Se houver diversificação dos produtos, será de forma racional, por motivos de mercado consumidor, e não por haver restrições quanto ao investimento." Para D'Agosto, com a novidade, as seguradoras podem ser mais agressivas na captação no último trimestre - período em que ficaram concentrados 30% dos aportes do ano passado. A mudança está em linha com a tentativa de recuperar o volume de contribuições em previdência aberta, que caiu de janeiro a setembro 35% em relação ao mesmo período de 2004, por conta da inclusão de complexas novidades tributárias para o setor. De acordo com D'Agosto, faltou entendimento dos investidores sobre os efeitos da opção pela alíquota regressiva de imposto de renda. Por ela, o aplicador que mantiver o dinheiro investido por mais de dez anos em um PGBL ou VGBL terá a incidência de 10% de IR, sem a possibilidade de compensação de gastos. Ao passo que, se o recurso permanecer no fundo apenas dois anos, essa alíquota sobe para 35%. Pela tabela progressiva, que continua valendo, é cobrada alíquota que vai até 27,5%, mas é permitida a compensação com gastos em educação e saúde, por exemplo. De janeiro a setembro, segundo dados do Fortuna, os planos de previdência acumulam captação líquida de R$ 4,272 bilhões. Só no mês passado, ingressaram R$ 627 milhões no setor. O patrimônio total das carteiras chega a R$ 47,520 bilhões. Segundo relatório do site, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, HSBC e Unibanco, pela ordem, foram as instituições que mais captaram em setembro.