Título: Haddad quer que educação seja a próxima prioridade do governo
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2005, Brasil, p. A2

O Ministério da Educação (MEC) vai dar início a um novo embate com a equipe econômica e pretende comprovar que o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) destinado pelo governo ao setor é insuficiente para garantir um salto de desenvolvimento no país nas próximas décadas. O ministro da Educação, Fernando Haddad, espera divulgar, no máximo em três semanas, um estudo detalhado, elaborado com apoio do Banco Mundial (Bird), em que estarão especificados os gastos públicos na área. Segundo ele, a expectativa dos técnicos do MEC é que se comprove que esses investimentos estão abaixo de 4% do PIB. Para que o Brasil se afirme como nação desenvolvida, disse o ministro - que integra a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem à Europa -, seria necessário um investimento de pelo menos 6% do PIB durante uma geração inteira, ou seja, por 20 anos. Na avaliação do ministro, os gastos públicos em educação são superestimados no Brasil, sobretudo porque não é feita a distinção devida entre o que se aplica em ciência e tecnologia, saúde e educação. Haddad disse a jornalistas brasileiros, durante uma conversa informal, que há mais de dois meses mantém conversas com empresários brasileiros sobre a necessidade urgente de assumirem e incluírem na agenda do país o tema educação. As reuniões sistemáticas têm sido realizadas com empresários de peso, como Jorge Gerdau e representantes do Grupo Odebrecht. Esses empresários já receberam inclusive informações detalhadas sobre a agenda e metas da União, Estados e municípios para a educação. "Pela primeira vez, nossa pauta é 90% comum", disse. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, participou há duas semanas em São Paulo de um jantar com esses empresários, organizado por Milu Vilela. Pela primeira vez, só se discutiu educação. A elite econômica do país, segundo Haddad, nunca havia incluído na pauta de reivindicações e prioridades do país, enquanto classe social, a educação. Esse debate, garante o ministro, começa a ter frutos importantes. "Não tenho a menor dúvida que a educação será a próxima agenda do país", afirmou. Para o governo, a necessidade de aumentar os investimentos no setor também é evidente. Na viagem a Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou a seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia, que a educação é considerada, "do banqueiro ao favelado", um tema que deve ter prioridade absoluta no Brasil, conforme sondagens feitas pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE). Haddad considera que a incorporação do tema na agenda brasileira driblará qualquer eventual restrição da equipe econômica ao aumento de investimentos no setor. O Japão, no pós-guerra, exemplificou o ministro, investiu 12% do PIB em educação. A avaliação de Haddad, feita em solo português, é que o Brasil teve uma "colonização reacionária, uma independência e uma República patrimonialistas". Não houve, segundo ele, nenhuma ruptura social significativa no Brasil, ao contrário de outros países do mundo e da América Latina. Nesses momentos de ruptura, concluiu ele, vários países se atentaram e fizeram o salto de investimento em educação. No Brasil, disse, há essa lacuna desde a escravidão, e o salto nunca foi dado.