Título: Greves de servidores aumentam na gestão Lula
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2005, Brasil, p. A2

As greves do funcionalismo público ganharam força no governo Lula. Nos dois primeiros anos da gestão do ex-sindicalista, 49% das 642 paralisações realizadas em todo o país foram feitas por funcionários do setor público. Já no biênio inicial do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, esse percentual foi de 33%. As greves desse setor em 2003 e 2004 representaram 28,2 mil horas paradas, crescimento de 6,3% sobre 1999 e 2000. Só em 2004, 52,3% das greves foram feitas pelo funcionalismo público. Quando se inclui os movimentos feitos pelos trabalhadores das empresas estatais, como Petrobras, esse número sobe para 61,2%. O setor privado respondeu por 37,7% dos movimentos, sendo 19,5% nos serviços, 17,9% na indústria e nenhuma no comércio. Na avaliação do consultor sindical João Guilherme Vargas Neto, a melhora da situação econômica contribui para que mais trabalhadores cruzem os braços em busca de reajuste ou mesmo da manutenção de direitos. Além disso, ele credita as manifestações do setor público ao que chama de uma política errônea do governo federal em relação ao funcionalismo. "O governo Lula começou machucando os servidores com a reforma da Previdência, o que deu mais força à insatisfação", diz. No entanto, apesar das greves na esfera pública terem ganhado espaço nos últimos dois anos, a quantidade total de paralisações (nos ramos públicos e privados) vêm diminuindo. Em 2004, foram 302 movimentos grevistas, a menor quantidade desde 1983 (202) - primeiro ano do levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Em 2003, foram 340 greves. Agora em 2005, até agosto, já ocorreram 124 greves, somando cerca de 5,8 mil horas paradas. No funcionalismo público, as paralisações têm sido mais abrangentes. No ano passado, 80% das greves nesse setor contaram com a participação de toda a categoria. Vargas Neto lembra que os servidores têm reivindicações represadas há mais de dez anos, já que foram pouco atendidos durante o governo FHC. Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese, comenta que na esfera pública os mecanismos de negociação são escassos e, muitas vezes, é preciso realizar a greve só para abrir a negociação. No funcionalismo, não há data-base, campanha salarial ou comissão de negociação. O levantamento do Dieese mostra ainda que em 2004 quatro greves foram capazes de mobilizar nada menos do que 700 mil trabalhadores, reunindo cerca de 54% do total de grevistas contabilizados durante o ano todo. A maior delas, em número de adesões, foi uma paralisação de 24 horas feita em junho pelos servidores do Estado de São Paulo das áreas de saúde, educação, transportes e segurança pública. Assim como essa, 47% de todas as greves do ano passado terminaram no mesmo dia em que tiveram início. Segundo Vargas Neto, isso pode ser explicado pelo fato de boa parte das manifestações serem feitas para exigir o cumprimento de algum acordo não realizado. De acordo com o Dieese, a busca por reajuste salarial justificou 55,6% dos movimentos, enquanto a exigência de um plano de carreiras e salários foi a principal razão para 18,9% deles, seguida do pedido pelo pagamento de salários em atraso, motivo de 18,5% das greves.