Título: Déficit habitacional do país cresce 16,5% em dez anos
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2005, Especial, p. A12

A falta de uma política habitacional é a maior responsável pelo déficit habitacional brasileiro. Pesquisa feita pela GVConsult, a pedido do Sinduscon-SP, informa que a carência atual é de 7,28 milhões de moradias. Há dez anos, o número era de 6,24 milhões, o que indica crescimento de 16,5% no período. O cálculo foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2003, do IBGE. A PNAD 2004 ainda não foi divulgada. A metodologia adotada por Ana Castelo, da GV Consult, autora do estudo, contabiliza a coabitação familiar e os domicílios rústicos para calcular o déficit. A coabitação (várias famílias numa única residência) responde por 53% do total do déficit, ou 3,9 milhões de domicílios. Os domicílios rústicos, onde estão incluídas as favelas, moradias debaixo de viadutos, barracas, tendas, trailers, carroças, vagões de trens, prédios em construção e até grutas, somam parcela importante do déficit: 3,1 milhões de moradias. A falta de lugar decente para morar tem dimensão maior nos três Estados mais desenvolvidos do Brasil - São Paulo, Rio e Minas. Os três juntos respondem por 38% do déficit total do país. De acordo com a pesquisa, São Paulo possui a maior carência de habitações, em termos absolutos - 1,491 milhão, cerca de 20% do déficit total. O maior problema, nesse caso, é a coabitação familiar. Em São Paulo ocorreram as alterações mais expressivas do déficit em dez anos. Em 1993, o déficit habitacional paulista era de pouco mais de 1 milhão de moradias. Em 2003, saltou para quase 1,5 milhão, crescimento de 43%, muito acima da média nacional. O governo Lula gerou grandes expectativas de um programa de financiamento de moradia popular. O grande desafio, como destaca o estudo, é fazer chegar recursos às classes de renda mais baixa. O volume de dinheiro destinado à habitação vem aumentando desde 2004. Em 2004, foram contratados R$ 4,2 bilhões para habitação e saneamento, de um total do orçamento do FGTS de R$ 7,2 bilhões. Em 2005, os recursos do FGTS previstos para habitação e saneamento atingiram R$ 11,2 bilhões. Mas, até agosto, as contratações haviam atingido apenas R$ 2,634 bilhões, dos quais R$ 2,6 bilhões para habitação e R$ 34 milhões para saneamento. Nos sete primeiros meses do ano, apenas 24% do orçamento do FGTS foi aplicado e, desse total, menos da metade para aumentar o número de moradias no país, não contribuindo pois para redução do déficit habitacional. (VSD)