Título: Adiada decisão sobre venda da VarigLog
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2005, Empresas &, p. B2

Aviação Também não ficou definido como será o pagamento de US$ 63 milhões às companhias de leasing

A segunda assembléia de credores da Varig foi realizada ontem em clima tenso, em alguns momentos exaltado, e acabou sem que tenha sido apreciado um tema considerado fundamental pelos administradores da companhia: a venda da VarigLog, subsidiária de logística, em decisão separada da aprovação do plano de recuperação da aérea. A assembléia foi remarcada para o dia 19 e ontem não ficou claro como será feito o pagamento de aproximadamente US$ 63 milhões que a empresa deve às companhias de leasing de aviões. O prazo para esse pagamento, nos Estados Unidos, vence no dia 20 e a expectativa é de que até lá a Varig receba uma manifestação dos credores que permita pedir mais prazo ao juiz Robert Drain, da Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York, que analisa pedido de arresto dos aviões da companhia. Até o momento, Drain está validando os efeitos da recuperação judicial da Varig decidida pela Justiça brasileira, o que está impedindo as companhias de leasing retomar seus aviões. Enquanto os representantes dos sindicatos de trabalhadores da Varig questionam a necessidade de caixa da companhia aérea, o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, disse que ela corre um "risco real" de perder 30 a 40 aeronaves no dia 20, caso não consiga quitar parte de suas dívidas com as companhias de leasing. Ontem, foram apresentados três planos de recuperação: da própria devedora; da Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure; e da associação Trabalhadores do Grupo Varig (TGV). Carneiro da Cunha apresentou uma carta de intenções assinada por Fernando Pinto, presidente da TAP Portugal, reiterando o interesse em participar do processo de recuperação judicial da Varig e informando já ter contratado a assessoria do banco JP Morgan. A TAP não menciona valores na carta, mas Omar Carneiro da Cunha disse que a companhia portuguesa pretende aportar cerca de US$ 100 milhões. Segundo Cunha, a Varig espera um aporte inicial de US$ 38 milhões com a venda da VarigLog para o fundo de investimentos americano MatlinPatterson, em uma operação "casada" com o adiantamento de US$ 50 milhões em recebíveis de cartões de crédito e mais US$ 15 milhões. Em uma segunda tranche, ainda segundo o presidente da Varig, a TAP também manifestou interesse em participar de um processo de capitalização que traria mais US$ 300 milhões a US$ 400 milhões, junto com outros investidores. Nelson Tanure foi o segundo a apresentar seu plano - apoiado por seis sindicatos, incluindo o dos Aeronautas, Aeroviários e da Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil. Tanure propôs um "pacto de governança" com governo, credores, funcionários e a Justiça, como pré-condições para o sucesso da proposta que, segundo ele, foi apresentada aos maiores credores nos Estados Unidos. Ele foi interrompido pela advogada Laura Bumachar, do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, um dos representantes da General Electric, que ressaltou que a GE não autorizava o plano que tinha sido apresentado por Tanure. A GE é uma das maiores credoras da Varig. Docas se dispôs a trocar US$ 40 milhões por recebíveis e aportar mais US$ 360 milhões de origem não informada, dos quais US$ 90 milhões viriam de Tanure. No entanto, como pré-condição, Tanure quer que as empresas de leasing concedam um desconto de 50% na dívida passada e também nos aluguéis pelos próximos três anos. A condição foi considerada inviável pelos advogados que representavam as empresas de leasing. Segundo estimativas, esse "desconto" representaria US$ 180 milhões ao ano. Já a TGV entregou a João Cysneiros Vianna, administrador judicial da Varig, uma carta do Banco Efisa, integrado ao Grupo Banco Português de Negócios, no qual a instituição se dispõe a adquirir recebíveis de cartões de créditos da Varig no valor de US$ 50 milhões. Mas o presidente da Associação de Pilotos da Varig (Apvar), Marcio Marsillac, também coordenador do TGV, explicou que o mesmo grupo pode elevar o aporte inicial para até US$ 200 milhões, trazendo depois outros US$ 250 milhões em investimento estrangeiro novo de fonte não revelada. Segundo Daltro Borges, advogado da Varig, o banco UBS, assessor financeiro da aérea, entrará em contato com o Efisa para conhecer as condições desse financiamento e poder dar um parecer à Varig. Marcada para começar às 9h, a assembléia de credores da Varig só começou às 11h e durou seis horas. O atraso foi motivado por uma disputa entre os sindicatos e associações de trabalhadores pelo direito de representar a totalidade dos empregados da Varig, na qual não faltaram liminares e ameaças de prisão. Por causa disso, o administrador judicial marcou para o dia 18 uma reunião apenas com sindicatos e associações. Em um dos momentos de maior tensão, o advogado Sérgio Tostes, advogado da Aerus, disse que estava sob ameaça de prisão e que ia pedir habeas corpus preventivo. Em outro, o consultor Bruno Rocha, da GGR Finance, que assessora a TGV, acusou de "nazista" o plano da Varig elaborado pela Lufthansa de demitir funcionários e transferi-los para São Paulo. Ao ouvir isso, Omar Carneiro da Cunha deixou a sala exaltado, ameaçando ir embora e pedindo a prisão de Rocha. (Colaborou Vanessa Adachi, de São Paulo)