Título: União prepara licitação para expansão da ferrovia Norte-Sul
Autor: Francisco Góes e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2005, Empresas &, p. B8

Logística Vale do Rio Doce já montou um projeto financeiro para construir novo trecho

A expansão da Ferrovia Norte-Sul (FNS) está saindo do papel quase 20 anos depois de o projeto ter sido lançado pelo ex-presidente José Sarney, na década de 80. A Valec, concessionária da Norte-Sul, aguarda sinal verde do Ministério dos Transportes e da Casa Civil para lançar o edital de licitação de um trecho de 451 quilômetros a ser construído entre Babaçulândia e Porto Nacional, em Tocantins, com investimento estimado em US$ 400 milhões. A maior interessada é a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que opera 215 quilômetros da ferrovia. Roger Agnelli, presidente da Vale, disse que está conversando com o governo federal para abertura da licitação. A idéia inicial era fazer a expansão da malha via Parceria Público Privada (PPP), mas o próprio governo já sinalizou que optará pelo modelo de concessão. "Se houver a licitação, temos interesse", destacou Agnelli, adiantando que a Vale já tem projeto montado e conta com o apoio financeiro do Japan Bank for International Cooperation (JBIC). O executivo acredita que deve haver outros interessados no negócio. "É só uma questão de o governo decidir e definir quando vai ser a licitação". As apostas são de que o edital seja lançado ainda este ano. Ulisses Assad, diretor de engenharia da Valec, disse que não existe no governo federal obra que possa ser feita com a velocidade da Norte-Sul. Segundo ele, o projeto de engenharia está pronto e existe licença ambiental prévia para tocar o empreendimento. "Já temos assessoria jurídica para lançar o edital." Assad explicou que pelo fato da Valec ser a concessionária dos 1.550 quilômetros do projeto (entre Açailândia e Anápolis), a licitação compreenderá um contrato de subconcessão para a iniciativa privada. A idéia é incluir na licitação o trecho entre Estreito (TO) e Açailândia (MA), onde a ferrovia se liga a Estrada de Ferro Carajás (EFC), da Vale. A mineradora opera este trecho da Norte-Sul desde 1991, mediante um contrato com a Valec, que já foi renovado e que vence em 31 de dezembro. O executivo disse que, mesmo incluindo o trecho hoje operado pela Vale na licitação, há a possibilidade de renovar por mais um ano o contrato com a mineradora, para evitar que a ferrovia pare. O edital deverá prever ainda a inclusão de cerca de 100 quilômetros de ferrovia em construção pela Valec com recursos federais, que vai de Aguiarnopólis (TO) a Babaçulândia. Somados, os dois trechos alcançam 315 quilômetros. Mais os 451 quilômetros do trecho novo, serão 766 quilômetros a serem operados pela iniciativa privada. Para chegar até Anápolis, que é o destino final da FNS, faltaria construir outros cerca de 784 quilômetros totalizando a extensão de 1.550 quilômetros, o que ocorreria numa segunda etapa. Na hipótese de a Vale perder a licitação e o direito de construir o novo trecho, poderia haver uma saída jurídica para evitar que a mineradora deixe de operar o trecho atual, aventou Assad. A Norte-Sul é mais uma ferrovia estratégica para a Vale, que controla a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), a EFC e a Estrada de Ferro Vitória a Minas, além de ser majoritária na MRS. A Norte-Sul foi desenhada ligando-se ao Sul com a FCA, o que permite à Vale escoar carga pelos portos de Sepetiba e Vitória, via EFVM, e ao Norte, com Carajás, cujo destino final é o porto de São Luís. A importância logística da Norte-Sul está sendo redescoberta. À época do seu lançamento, o projeto levantou desconfiança de ligar "nada a coisa nenhuma" e foi alvo de denúncias de corrupção, apesar de ter sido apresentado por Sarney como "o sonho" de interligar as ferrovias do Norte com as do Sul do Brasil. O que hoje se constata é que a ferrovia, com influência em cinco estados (PA, MA, PI, TO e MT), está inserida numa área agrícola com 11,1 milhões de hectares com potencial para produção de 24 milhões de toneladas de soja por ano. Mauro Dias, diretor comercial de logística da Vale, lembra que somente neste ano a mineradora vai movimentar 1,8 milhão de toneladas de soja pelo porto de São Luís, das quais 1,6 milhão de toneladas passam pela área de influência da Norte-Sul. Projeções feitas pela Vale indicam que a Norte-Sul poderá ter crescimento de 15% ao ano no transporte de cargas até 2008.