Título: Ser ou não ser governo?
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 27/04/2010, Cidades, p. 26

NOVA ADMINISTRAÇÃO

O diretório regional do PT se reúne hoje para decidir se apoia oficialmente o PMDB e se ocupa cargos na gestão Rogério Rosso. A legenda, porém, está rachada

A missão de derrotar Wilson Lima ¿ candidato do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) ¿ na eleição indireta encorajou o Partido dos Trabalhadores do DF a se juntar ao PMDB. A reação desigual da militância do PT, no entanto, provocou um recuo no partido e rachou os petistas entre os que apoiam e aqueles que desaprovam a aproximação ao novo governo. O tema promete ser o mais polêmico da reunião do diretório regional da legenda marcada para hoje à noite. A ocupação ou não de cargos na administração Rogério Rosso (PMDB) também será decidida.

O PT é conhecido por ser um partido que segue as posições tomadas em colegiado. Por isso, a importância do encontro de hoje na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT) a partir das 19h no Conic. O que for decidido pela maioria dos 43 dirigentes regionais no DF terá de ser tomado como regra no partido, que possui 15 tendências diferentes. Um posicionamento oficial e uniforme da legenda virá de uma queda de braço entre dois grupos.

De um lado, estão as tendências mais à esquerda, que concentram a maioria dos militantes e querem trilhar um caminho para as eleições de outubro independente do PMDB. Esse grupo usa como argumento a proximidade que os peemedebistas mantiveram com os governos acusados de corrupção e se ampara ainda em uma pesquisa interna realizada pelo PT, que apurou alta rejeição numa chapa eventualmente formada pelo pré-candidato ao GDF Agnelo Queiroz e o presidente do PMDB local, Tadeu Filippelli.

De outro lado, tentará prevalecer a opinião de uma corrente de petistas mais vinculada à direção do partido, diretamente envolvida na negociação sobre as eleições. Há representantes desse grupo na Articulação, a maior tendência do partido e onde estão abrigados, por exemplo, o presidente da legenda no DF, Roberto Policarpo, e Agnelo Queiroz. Quem é favorável a uma aproximação com o PMDB alega que esse movimento, assim como foi fundamental para a determinar a vantagem na eleição indireta, continuará sendo decisivo para neutralizar a força de Joaquim Roriz na disputa.

Mandato O mandato eletivo é outra linha de corte na polêmica da aliança com o PMDB. Quem tem e quer manter o posto na próxima legislatura acha arriscado assumir publicamente a união com o partido do governo. Isso explica a postura de distritais do PT que ou são radicalmente contra a junção, como Chico Leite, ou evitam declarar publicamente apoio à aliança, a exemplo de Paulo Tadeu e Cabo Patrício.

Durante compromisso do PT no último fim de semana, o deputado federal Geraldo Magela (PT) optou por um discurso de distanciamento em relação ao PMDB. ¿Devemos nos antecipar e não aceitar participar desse governo. Temos um projeto e queremos nos unir com outros partidos para ganharmos a eleição e começarmos a governar em 1º de janeiro de 2011¿, disse Magela, que deve concorrer a uma vaga ao Senado Federal.

Agnelo, que nos bastidores tem defendido a junção com o PMDB, não descartou a hipótese e falou em unir esforços: ¿Vamos iniciar um projeto de mudança, alternativo, pensando nos próximos 50 anos. Será um programa de governo com os nossos aliados para diminuir as forças do adversário, que está no poder há muito tempo e fazendo políticas desajustadas e conservadoras¿. Análise da notícia Ideologia x pragmatismo

O Partido dos Trabalhadores no DF vive uma crise típica dos partidos quando têm ao alcance das mãos a perspectiva de poder, que quase sempre é entregue pelos eleitores aos candidatos e partidos considerados mais fortes ¿ leia-se: com mais tempo de televisão, mais dinheiro para a campanha e mais popularidade. Numa ponta do dilema, está o risco de incoerência aos princípios ideológicos. O PT fez oposição às duas últimas administrações, das quais o PMDB foi peça da engrenagem. Na outra ponta do ser ou não ser governo, petistas imaginam que se aproximar do grupo da situação é o caminho mais objetivo para vencer as eleições. Afinal, avaliam, de que adianta tanto apego aos princípios partidários se puritanismo nem sempre está entre os critérios determinantes numa disputa por votos? Se vencer a corrente mais apegada aos argumentos pragmáticos de um pleito, ela terá como respaldo a postura da direção nacional do PT, que, há oito anos, divide o trono com o PMDB, primeiro para chegar ao poder e depois como tática de sobrevivência no comando. (LT)

Desperdício e burocracia atacam a saúde pública

Noelle Oliveira Lotes de medicamentos próximos do vencimento e equipamentos encaixotados por falta de parecer, ou porque não tiveram o patrimônio registrado pelo GDF. Foi essa a realidade encontrada ontem pelo governador Rogério Rosso ao visitar o Parque de Apoio da Secretaria de Saúde, no Setor de Indústrias Gráficas ¿ onde fica o estoque do órgão. Antes da visita, o governador passou a manhã despachando no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

¿As instalações para medicamentos e equipamentos são ruins e não permitem que o funcionário trabalhe direito. Milhões de reais comprados pelo DF precisam de apoio e controle¿, afirmou ao governador ao constatar pilhas de caixas de um lote de medicamentos que vence em maio de 2010 ainda no estoque da Secretaria de Saúde. Outro problema é a falta de pareceristas para avaliarem e liberarem equipamentos. Os profissionais responsáveis pela liberação são médicos da própria secretaria que, além de suas funções, devem averiguar se as aquisições feitas pelo GDF atendem as normas exigidas para os seus respectivos usos. Entre os equipamentos parados por conta da burocracia estão 30 bisturis eletrônicos no valor total de R$ 252 mil. ¿Pedi providências para o secretário de Saúde para que, ainda nesta terça-feira, os pareceristas venham aqui liberar esses equipamentos¿, afirmou o governador. Também estão no estoque um refrigerador, duas incubadoras neonatais, oito aparelhos de raios X, além de equipamentos industriais (Leia quadro).

Segundo o secretário de Saúde, Joaquim Barros, apenas em abril, 5 mil equipamentos foram liberados para unidades hospitalares. Isso graças a uma força-tarefa. De acordo com o prazo fixado por Rosso, os equipamentos ainda no estoque devem estar nos hospitais até o fim desta semana. ¿Vamos nomear os coordenadores ou pareceristas para que tudo seja feito o mais rapidamente possível¿, destacou Barros.

Nomeações O governador Rogério Rosso ainda não terminou a composição do primeiro escalão de seu governo, mas antes que isso ocorra terá de substituir um dos primeiros cargos a serem definidos. Rosso deslocará a delegada Adryani Fernandes Lobo da Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab), para onde havia sido nomeada, para uma subsecretaria de Cidadania e Justiça. Quem assumirá o lugar da delegada que nem chegou a tomar posse é César Melo ¿ ele já participava do governo. A troca ocorreu, segundo informou a assessoria de imprensa do GDF, em função de um problema de saúde de Adryani.

Até as 20h30 de ontem, a cúpula do governo ainda discutia a formação de governo. Até esse horário, o Diário Oficial do DF estava em aberto. Um dos cargos debatidos entre o governador e seus principais aliados era o de secretário de Obras. O presidente do PMDB no DF, Tadeu Filippelli, deve indicar Davi Matos para a pasta. Para a Secretaria de Educação, discute-se a possibilidade de o PDT apresentar o nome de Marcelo Aguiar, que no governo de José Roberto Arruda foi secretário de Educação Integral. Até o fechamento desta edição, os nomes, no entanto, não haviam sido confirmados oficialmente.

Dentro de um acordo no qual os distritais aliados terão voz na composição de governo, o deputado Cristiano Araújo (PTB) sugeriu quatro nomes para a Secretaria de Trabalho. Um deles é o do próprio tio, o atual administrador do Paranoá, Artur Nogueira. Ele foi nomeado para comandar a administração pelo ex-governador José Roberto Arruda, em janeiro do ano passado. Nogueira é irmão da mãe do distrital. O candidato à vaga é empresário e filiado ao mesmo partido do sobrinho. Nas eleições indiretas, Cristiano não votou na chapa encabeçada por Rosso.

Colaboraram Lílian Tahan e Luísa Medeiros