Título: Leilão de campos maduros dá início a mercado secundário de petróleo no país
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2005, Brasil, p. A2

A habilitação de 89 empresas interessadas apenas em disputar campos maduros na Bahia e Sergipe que serão licitados na 7ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que começou há pouco com leilão de áreas exploratórias, é vista com entusiasmo no mercado. Entretanto, o otimismo se deve mais à expectativa de início de um mercado secundário de petróleo no país do que pela qualidade das áreas oferecidas, consideradas de baixa produtividade e com possibilidade de produzir pouco óleo. Quem já está no ramo também avisa aos novatos que produzir petróleo não é fácil. A ANP vai leiloar a partir de hoje o total de 1.134 blocos no mar (em águas rasas e profundas) e em terra. Foram habilitadas 114 empresas para a disputa. Hoje e amanhã serão oferecidas as áreas onde ainda é preciso explorar, descobrir petróleo. Na quarta-feira, último dia da licitação, 17 áreas inativas com acumulações marginais em terra, sendo 11 na Bahia e seis em Sergipe. São os chamados campos maduros, alguns com dezenas de poços já perfurados mas onde já não é extraído petróleo. O termo maduro é usado para denominar campos que já passaram pelo pico de produção, tendo as reservas economicamente esgotadas para os padrões das grandes empresas. Não por acaso, causou espanto no mercado a qualificação da Petrobras para essa parte do leilão, já que as áreas foram devolvidas pela estatal. Mesmo assim, a iniciativa da ANP foi elogiada. " É um pontapé que precisava ser dado. Mas não se deve criar grandes expectativas, não há nenhuma galinha dos ovos de ouro. Ainda vai demorar muitos anos até que essa atividade amadureça no Brasil " , avalia Eduardo Cintra Santos, da PetroRecôncavo, primeira empresa a operar 12 campos maduros no país como prestadora de serviços para a Petrobras no Recôncavo Baiano. O diretor da ANP responsável pela área de exploração e produção, Newton Monteiro, concorda com algumas das ponderações e valida. " Ninguém vai ficar milionário " , admite. " Mas existe a expectativa de a Petrobras liberar mais campos um dia " , pondera. As pequenas empresas que produzirem petróleo no Brasil só podem vender para a Petrobras. Como os volumes são pequenos, elas também usam as instalações da estatal, que cobra pelos serviços e também pode ficar encarregada de separar a água do petróleo, já que essa não pode ser descartada na natureza por exigência dos órgãos ambientais. Outra fragilidade do mercado brasileiro apontada por Eduardo Santos é a inexistência de prestadores de serviços para atividades periféricas à produção. " Quem opera apenas um poço não pode pagar um engenheiro de petróleo ou comprar uma sonda. Seria mais fácil se pudesse compartilhar esses serviços, participando, por exemplo, de uma cooperativa " , avalia. Os interessados em disputar os campos maduros oferecidos nessa rodada devem ter capital mínimo de R$ 10 mil. O bônus de assinatura (equivalente ao preço mínimo) varia entre R$ 1 mil e R$ 3 mil. A Federação Única dos Trabalhadores (FUP) e a CUT preparam manifestação em protesto contra o leilão.