Título: PFL já discute condições para negociar com PSDB
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2005, Política, p. A6

Sucessão Candidatura de Cesar Maia à Presidência só deve ser mantida em caso de crise entre os tucanos

Quatro anos depois de romper a aliança com os tucanos que elegeu duas vezes Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República, o PFL ensaia um possível retorno. Sempre ressalvando que o processo de negociação começará quando e se o prefeito do Rio, Cesar Maia, retirar sua pré-candidatura, a cúpula do partido já coloca as condições para uma nova aliança. "Qualquer coligação passará por uma grande arquitetura das situações regionais. Ainda que a verticalização das coligações caia, vamos nos comportar como se ela existisse. Será um trabalho de ourives", disse o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). E não será apenas isso: dentro do partido, outros dirigentes defendem só manter conversações com os tucanos se o PSDB definir, antes da eleição, qual seria a participação pefelista no governo. No calendário pefelista, a candidatura presidencial do prefeito do Rio será oficialmente mantida até o fim do primeiro trimestre. Será o tempo necessário para avaliar diversas variáveis: o tamanho do estrago na imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a manutenção ou não da verticalização das coligações, a definição do candidato tucano à Presidência e a existência ou não de um candidato próprio do PMDB. Se os pemedebistas tiverem candidato, como a maioria dos pefelista aposta, fica muito reforçada a possibilidade de segundo turno e as chances de aliança aumentam. No partido, já se especula até quais os possíveis nomes para compor como vice a chapa do PSDB. São citados Bornhausen, que já adiantou que não irá disputar a reeleição para o Senado em Santa Catarina, o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), e o senador Marco Maciel (PE), que foi vice-presidente da República por dois mandatos. Os pefelistas justificaram o lançamento da candidatura presidencial de Cesar Maia no fim do ano passado como uma forma de brecar o fortalecimento da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os tucanos não podiam dar este passo: logo depois da eleição municipal do ano passado, ficou clara a divisão do PSDB em relação ao possível candidato. "O PFL pensava em pulverizar o quadro para levar a um segundo turno, o que não existe mais", disse o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (BA). "Dissemos qual era nossa estratégia aos tucanos. Agora a vitória de Lula está quase inviabilizada e a aproximação é real, embora a candidatura própria não esteja descartada. Cesar Maia será o senhor da decisão", confirmou Bornhausen (SC). Na hipótese de o governo federal conseguir envolver o PSDB nas mesmas denúncias de uso de caixa 2 que atingem atualmente o PT - e este é um objetivo declarado dos petistas - a candidatura presidencial pefelista voltaria a ganhar força. Será uma candidatura indesejada por muitos que enxergam a fragilidade do partido: nos 68 municípios com mais de 200 mil eleitores, o PFL tem apenas três prefeituras. Entre os 27 governos estaduais, conta com dois: Bahia e Sergipe. A existência pefelista é mais congressual do que eleitoral. E Cesar Maia, com três de mandato pela frente, seria o único nome. "Não dá mais tempo de preparar outro nome. Ou é Cesar, ou é a aliança com o PSDB", disse Agripino Maia. Mas o próprio prefeito do Rio demonstra a cada dia migrar da condição de presidenciável para a de articulador político. Ao ser perguntado se admitiria a possibilidade de se desincompatibilizar para disputar um posto de vice, Cesar Maia adiantou-se e descartou a própria candidatura à Presidência da República. "Não sairei da prefeitura em hipótese alguma", respondeu, em entrevista por correio eletrônico. O prefeito admitiu, entretanto, o risco de os trabalhos da CPI atingirem oposicionistas. Ao ser indagado sobre o trânsito dos principais presidenciáveis tucanos, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, José Serra, dentro do PFL, o pefelista assim respondeu: "Estamos ainda muito longe. Nem sei se os desdobramentos das CPIs podem atingir fulanos e beltranos. Há que esperar". A própria divisão entre os tucanos sobre a Presidência é uma das razões para o PFL exercer a sua opção para a sucessão presidencial depois da escolha do PSDB. A direção pefelista pretende se manter neutra na disputa, antes que o clima de divisão dos possíveis aliados contagie a sigla. A candidatura de Serra é do interesse do PFL paulista, que herda uma prefeitura com três anos de mandato e possibilidade de reeleição e conta com a simpatia de Cesar Maia. Alckmin é um nome mais palatável para o resto da cúpula pefelista. Para vencer áreas de resistência ou sedimentar apoios, os presidenciáveis tucanos se movimentam. Nas últimas semanas, Alckmin esteve na Bahia e Serra jantou com o senador Antonio Carlos Magalhães (BA), em São Paulo. Ambos saíram com a sensação que o carlismo não criará problemas para uma eventual composição no futuro. "A questão nacional está em primeiro plano. Não vejo obstáculos que existiram no passado presentes atualmente", afirmou o secretário-geral pefelista, senador César Borges, aliado de ACM. Neste processo interno, caso a aliança se confirme, a recíproca será verdadeira: a possibilidade de influência do candidato tucano no eventual candidato a vice pefelista será mínima. "Alguém de fora escolher dentro do PFL é impossível. Vide Estado e Prefeitura de São Paulo", afirmou Cesar Maia, referindo-se ao vice-governador paulista Claudio Lembo e o vice-prefeito Gilberto Kassab. Ambos foram escolhidos pelo partido sem que os candidatos titulares, Alckmin e Serra, pudessem influir.