Título: Jardim Botânico recorre ao Bird para preservar espécies ameaçadas
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Brasil, p. A2

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro está recorrendo ao Banco Mundial (Bird) para interromper o processo de aumento do número de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. A última lista, de 1989, somava 107 espécies. Em levantamento feito este ano, o número saltou para 1.500. O presidente da instituição, Liszt Vieira, militante ambiental indicado para o cargo pela ministra do meio ambiente, Marina Silva, está acertando com o Bird um plano de ação para evitar que orquídeas e bromélias, madeiras como mogno, jacarandá e pau-brasil e até o palmito desapareçam. O Bird deverá colocar de US$ 2 milhões a US$ 3 milhões no projeto. O plano já foi submetido aos órgãos do governo que analisam acordos internacionais e vai seguir para aprovação do conselho do Global Environment Facilitie (GEF), o braço ambiental do Bird, em novembro. A assinatura do projeto deve ocorrer em março na Cope 8 (regional do trabalho subseqüente à conferência Rio 92), em Curitiba. Paulo José Fernandes Guimarães, diretor do instituto de pesquisa do Jardim Botânico, disse que a preservação da flora tem ficado em segundo plano nas agendas de meio ambiente porque a sensibilidade das pessoas é maior em relação à fauna. "Mas a flora está tão ameaçada quanto os animais", alertou. Liszt Vieira disse que quer transformar o parque mais antigo do Brasil, fundado em 1808 por D. João VI, num centro de excelência de pesquisas de botânica e biodiversidade. Até março de 2006, a instituição terá na internet um banco de dados e imagens com 410 mil exemplares de plantas brasileiras que compõem o acervo do seu herbário. Segundo ele, o projeto em andamento conta com financiamento de R$ 1,4 milhão da Petrobras e envolve a criação de um catálogo informatizado e digitalizado, tarefa de 30 digitadores que processarão mais de 15 mil registros por mês. O trabalho de informatização do herbário vai durar dois anos. O banco de dados e de imagens permitirá a compreensão da flora brasileira, a mais diversificada do planeta. O material a ser disponibilizado no site do Jardim Botânico (www.jbrj.gov.br) estará acessível a consultas em português, inglês e espanhol. Paralelamente, o instituto de Pesquisas do Jardim Botânico toca a construção do Banco de DNA de Espécies da Flora Brasileira. O projeto de DNA é patrocinado pela Aliança do Brasil, seguradora do Banco do Brasil, que colaborou com R$ 400 mil. A idéia é montar uma coleção de DNAs de espécies vegetais nativas do país. O trabalho é feito com a coleta de plantas no Brasil todo. Os pesquisadores extraem o DNA das espécies, que é conservado a menos 80 graus centígrados. "Já temos armazenados em dois freezers 1.800 amostras de DNA da flora brasileira. A meta é incluir mil amostras por ano", disse Guimarães. Mas, segundo ele, o banco do Jardim Botânico ainda está muito pobre. "Para se ter um banco de DNA completo da flora brasileira seria necessário dispor do DNA de cerca de 55 mil espécies de plantas, que é a estimativa da nossa diversidade botânica." Ele explicou, porém, que sua equipe de pesquisadores, em torno de 43 pessoas, não ambiciona ter o DNA de todas as espécies, mas sim alcançar uma abrangência mais qualitativa do que quantitativa. O banco reunirá informações das plantas brasileiras que poderão ser utilizadas também no futuro para produzir substâncias de interesse econômico, mesmo que a espécie não exista mais na natureza. As bromélias da Mata Atlântica também estão sendo alvo de pesquisa no parque, com patrocínio da International Conservation (IC ), que entrou com US$ 180 mil no projeto. Recentemente, foi instalado no Jardim Botânico um "bromeliário" com as plantas vivas, aberto para visitação, e adotado pela Amil. Liszt Vieira explicou que o trabalho no Jardim Botânico requer a formação de parcerias público privadas, as PPPs, já que como autarquia federal, o parque tem um orçamento minguado, de R$ 5 milhões/anuais para cobrir custeio e investimento, fora a folha de pessoal, de R$ 15 milhões, paga pelo Tesouro. "Hoje contamos com o apoio de 15 parceiros privados comprometidos com a cultura e o meio ambiente", informa.