Título: Petrobras lidera leilão, mas novas empresas também ganham áreas
Autor: Chico Santos e Claudia Schuffner
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Brasil, p. A3

Energia Estatal ficou com 31 trechos de exploração em processo que rendeu R$ 546 milhões no 1º dia

O surgimento de novas empresas com apetite para investir e a volta da espanhola Repsol ao investimento de risco na exploração de petróleo no país marcaram o primeiro dia de leilões da Sétima Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A disputa confirmou também a posição de liderança da Petrobras. A estatal, que detém o virtual monopólio da indústria do petróleo no Brasil, foi a única a adquirir blocos em todas as bacias que tiveram interessados, ficando com 31 trechos exploratórios.

Foram arrematados 140 blocos exploratórios, gerando bônus no valor total de R$ 546,62 milhões, mais de 80% do total arrecadado na Sexta Rodada (R$ 665 milhões). As empresas Geobrás, de capital nacional, e Oil M&S, de capital argentino, foram as grandes surpresas. Juntas, elas arremataram 29 blocos da bacia terrestre do São Francisco, em Minas Gerais, de um total de 37 blocos arrematados. A bacia do São Francisco, que apesar do nome fica próxima a Belo Horizonte, foi a vedete das disputas. Segundo o gerente-executivo de Exploração e Produção da Petrobras, Francisco Nepomuceno, a bacia tem forte potencial de descobertas de gás natural, justificando o interesse por ela, que incluiu até a British Gas (BG), derrotada nas disputas. Há 14 anos, a Petrobras chegou a furar um poço na área conhecida como Remando do Fogo, um lago que apresenta freqüentes fenômenos de combustão espontânea provocada por emanações de gás na superfície. Foi esse potencial que levou a argentina Oil M&S a escolher a área para sua primeira incursão internacional, segundo informou o representante da empresa no Brasil, Marcelo Fonseca. A estratégia da empresa foi fazer apenas lances próximos ao valor mínimo (R$ 10.010, para um mínimo de R$ 10 mil), ficando com 20 blocos por pouco mais de R$ 200 mil. A Petrobras, na mesma bacia do São Francisco, ficou com seis blocos, gastando R$ 8,9 milhões. A Repsol, que já havia participado, sem sucesso, de explorações de petróleo no país, mas que havia ficado fora no ano passado, retornou em grande estilo. Ela fez uma oferta de R$ 51,9 milhões por um bloco exploratório em águas profundas da bacia do Espírito Santo, derrotando a Shell e a Petrobras que, em consórcio, ofereceram R$ 2 milhões pelo mesmo bloco. A empresa espanhola também arrematou outro bloco da mesma bacia, em consórcio com a americana Amerada Hess, por R$ 23,07 milhões, derrotando novamente a Shell e a Petrobras que ofereceram R$ 4,6 milhões. Um terceiro bloco foi arrematado pelos espanhóis, em parceria com a norueguesa Statoil. Além do valor do bônus, os leilões têm como quesitos para definir os resultados o percentual de conteúdo de equipamentos nacionais e programa exploratório mínimo. Outro participante dos mais ativos no primeiro dia dos leilões foi a portuguesa Petrogal, que, sozinha ou em parceria com a Petrobras, arrematou dez blocos exploratórios. O diretor-gerente da Petrogal no Brasil, Ricardo Peixoto, disse que a prioridade do grupo é consolidar posições na área terrestre do Rio Grande do Norte e entrar na área marítima do Espírito Santo, o que foi feito com sucesso. A estratégia de participar em sociedade com a Petrobras nos campos marítimos, segundo Peixoto, se deve ao conhecimento que a estatal brasileira tem dessas áreas e a possibilidade de fazer intercâmbio com a estatal brasileira. A Petrogal já é sócia minoritária da estatal em quatro blocos marítimos da bacia de Santos. Peixoto disse que em 2006 o grupo português vai iniciar a perfuração de poços na bacia de Potiguar. Outras empresas de menor porte que chamaram a atenção no leilão foram a Aurizônia Petróleo, a canadense Brazalta, da província de Alberta, e a brasileira W. Washington Empreendimentos. A W.Washington, que atua no Recôncavo Baiano, produzindo 300 barris de petróleo em campos maduros adquiridos da Petrobras, vai pela primeira vez, fazer exploração na região, em quatro blocos arrematados ontem. O ministro Silas Rondeau, de Minas e Energia, afirmou que os leilões dos poços devem ajudar o Brasil a manter a auto-suficiência em petróleo até 2015. Essa meta deverá ser alcançada no ano que vem. Rondeau destacou a decisão da ANP de priorizar na atual rodada blocos com maior potencial para descoberta de gás natural, além de atender a um mercado em fase de crescimento. A possibilidade de atingir logo a auto-suficiência na produção de petróleo tem um lado negativo, na visão do físico Luiz Pinguelli Rosa. Segundo ele, a auto-suficiência pode fazer com que as empresas que compraram poços exportem o produto. Com mercado interno saturado pela Petrobras, podem optar por vender no exterior. "O grande problema é que nossas reservas não são muito grandes", afirmou. "Por isso, vejo com preocupação a continuação dos leilões."(Com agências noticiosas)