Título: PSB quer direitos iguais
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 28/04/2010, Política, p. 4

ELEIÇÕES

Após sepultar a candidatura de Ciro, partido cobra isonomia no apoio aos palanques regionais

Aos poucos, o presidente Lula vai conquistando aquilo que planejou há tempos: colocar todos os partidos da base aliada em torno da candidata do PT, Dilma Rousseff. Nesse cerco, aliados da ex-ministra avaliam que só faltam o PTB e o PP. Ontem, foi a vez do PSB de Eduardo Campos e de Roberto Amaral. Por 20 votos(1) a 7 nos diretórios regionais e 21 a 2 na Executiva Nacional, os socialistas disseram não à candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) à sucessão presidencial.

Na próxima terça-feira, o PSB e o PT farão uma reunião para avaliar a situação dos palanques estaduais e acertar o roteiro da festa que os socialistas planejam promover em 17 de maio para anunciar o apoio a Dilma numa reunião do diretório nacional. ¿Foi no voto. Não foi uma decisão de gabinete. Adoraria poder anunciar uma candidatura, mas não foi isso que a conjuntura me ofereceu¿, afirmou Eduardo Campos, presidente da sigla, se rendendo à visão do presidente Lula de eleição polarizada entre Dilma e o candidato do PSDB, José Serra.

O PSB agora vai tratar de cobrar do PT o mesmo tratamento dispensado a outros aliados que já estão na aliança de Dilma ¿ PDT, PR, PRB e PCdoB ¿, além do PMDB, que pretende oficializar a candidatura de Michel Temer como vice na chapa da ex-ministra no próximo dia 15. ¿O que valer para o PT e para o PMDB valerá para o PSB. Queremos um critério¿, cobrou Eduardo Campos, referindo-se a apoio nos palanques regionais. Campos acredita ter hoje uma força partidária capaz de eleger de seis a sete governadores, cinco senadores e mais de 40 deputados federais. Foi em nome desses projetos que os diretórios estaduais preferiram abdicar da candidatura própria a presidente da República.

Reunião A primeira providência de Eduardo Campos e de Roberto Amaral foi voar até o Rio de Janeiro para uma reunião com Ciro ainda na terça-feira. Ontem, o deputado postou um poema do russo Vladimir Maiakovski em seu site: ¿Na primeira noite, eles aproximam-se, colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam nas flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada¿.

O poema, para os socialistas, foi a senha de que Ciro irá mesmo sair de cena nos próximos dias. Depois, ele divulgou uma carta no mesmo site, dizendo que considera a decisão do PSB um erro tático, mas não vai mais espernear. ¿Não é hora mais, entretanto, de repetir os argumentos claros e já tão repetidos e até óbvios. É hora de aceitar a decisão da direção partidária. É hora de controlar a tristeza de ver assim interrompida uma vida pública de mais de 30 anos dedicada ao Brasil e aos brasileiros e concentrar-me no que importa: o futuro de nosso país!¿

1 - Apoio Quando o Correio previu, no último sábado, o placar do PSB em 19 a 8, contava ainda o Amazonas como pró-Ciro. Mas desde que Serafim Corrêa fechou com o PR de Alfredo Nascimento, sobraram sete estados em apoio ao deputado: Maranhão, Rio Grande do Sul, Pará, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Ceará. Assim, o resultado ficou em 20 a 7. Na Executiva, de 21 votos possíveis, Ciro teve apenas dois: os de Ademir Andrade (PA) e José Antônio (MA).

Serra foca na saúde

Alana Rizzo

O ¿exército de jaleco¿, criado pelos coordenadores da campanha de José Serra (PSDB) à Presidência da República, recebeu ontem orientações para divulgar atos do ex-ministro da Saúde e provocar o debate sobre saúde pública nestas eleições. A oposição acredita que esse é um tema frágil na candidatura do PT. O Movimento Brasil Saúde, lançado em Brasília, se intitula como suprapartidário. Porém, o que se viu na divulgação do manifesto foram declarações claras de apoio ao tucano.

O médico sanitarista e ex-ministro interino da Saúde José Carlos Seixas disse que a área precisa de uma liderança ¿autêntica, de caráter e não titubeante¿. Para o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (GO), a discussão sobre a saúde está ganha. ¿Vamos levar de goleada. O governo teve a chance de aprovar a Emenda 29 e em sete anos não fez nada.¿

Deputados estaduais e federais, secretários, ex-funcionários do ministério e da Fiocruz, médicos e enfermeiros participaram da mobilização que elencou pontos da passagem de Serra pelo ministério e cobrou mais investimentos na área.

Cautela O coordenador do movimento, Renilson Rehn, pediu cautela aos militantes por conta da Justiça Eleitoral e prometeu para julho um site com mais ¿força¿. O baiano trabalhou com Serra no ministério e no governo de São Paulo. Na última visita do ex-governador à Bahia, Renilson o acompanhou nos hospitais de Irmã Dulce.

Em sua segunda visita à Bahia este mês, Serra privilegiou o corpo a corpo nas ruas de Alagoinhas e Feira de Santana. Com a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva rachada no estado, os tucanos esperam ganhar força e diminuir as diferenças no Nordeste, reduto de Lula. Hoje, Serra estará em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.