Título: Berzoini lucra com divergências entre as correntes radicais do PT
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Política, p. A6

As correntes derrotadas na disputa pela presidência do PT já encontram dificuldades para ganhar espaço na montagem da nova Executiva Nacional do partido. A divisão aumenta a margem de manobra para o novo presidente, o deputado federal Ricardo Berzoini, fazer acordos em separados com algumas tendências para manter o controle sobre o novo comando partidário. Uma composição de Berzoini com as correntes mais centristas entre as radicais para a formação da Executiva pode garantir ao novo presidente maioria no Diretório Nacional para a discussão da política de alianças e do programa de governo na eleição presidencial de 2006, evitando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja pressionado pelo seu próprio partido a restringir o leque de alianças e mudar as linhas da política econômica no programa de governo. O Campo Majoritário ficou com apenas 34 das 83 cadeiras do Diretório. Ontem, discretamente, representantes de cinco chapas radicais reuniram-se para tentar uma estratégia única que garanta oito dos 18 assentos da cúpula petista que serão repartidos conforme o resultado da eleição interna. A Executiva também será composta por Berzoini e pelos líderes na Câmara e do Senado. Atualmente, são o deputado gaúcho Henrique Fontana (Democracia Socialista) e o senador sul-mato-grossense Delcídio do Amaral Gómez (Campo Majoritário). Ambos devem ser substituídos, entretanto, no próximo ano. O Movimento PT, a mais moderada das tendências que se opõem ao Campo Majoritário, tem resistências a negociar em bloco e pretende negociar também diretamente com Berzoini. "Não pretendemos atuar a partir de blocos estanques. Estamos conversando com todos. Não podemos pensar na divisão da Executiva como um loteamento, para acabar com o clima de divisão do partido", afirmou a deputada federal Maria do Rosário (RS), que foi a candidata da corrente à presidência. Como fórmula de negociação, Rosário disse que o Movimento PT sugere entregar a secretaria-geral do partido - órgão que nas últimas direções petistas esteve envolvido na montagem de alianças partidárias e na relação com o governo- para a Democracia Socialista, a corrente do deputado estadual gaúcho Raul Pont, que enfrentou Berzoini no segundo turno. Em troca, propõe ficar com a secretaria nacional de Organização, que lida diretamente com os diretórios estaduais e municipais da sigla. Já a Democracia Socialista mira a primeira vice-presidência da sigla e a secretaria de Organização, montando ainda uma frente para que as outras correntes contrárias a Berzoini fiquem com as secretarias de Finanças e a secretaria-geral. "A proporcionalidade não pode ser apenas numérica, precisa ser também uma proporcionalidade qualificada, que reflita o fato de o Campo Majoritário ter obtido um pouco mais de 40% dos votos e as demais tendências um pouco menos de 60%", disse Pont, que descarta a secretaria-geral para si. Terceiro colocado no processo de eleição, o atual dirigente da sigla, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda (AE), recusou-se a comentar sobre as divergências. "Vamos trabalhar para ter uma executiva unificada e combinamos nesta reunião de não levar os problemas tratados e as posições de cada um neste debate para mídia", disse. A AE atualmente conta com Pomar na Executiva Nacional, na posição de 2º vice-presidente. O dirigente não confirmou se a AE reivindica um lugar a mais na cúpula dirigente, conforme afirmaram integrantes das outras correntes. Atualmente, mesmo na conjuntura de crise, o Campo Majoritário controla todos os postos chaves: Finanças, Organização, primeira vice, secretaria-geral e presidência.