Título: Ética abre processo contra 11 deputados
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Política, p. A7

Crise Apesar das várias reuniões, apenas um dos seis petistas renuncia

Apenas dois dos 13 deputados acusados de envolvimento com o pagamento de mensalão renunciaram ao mandato até às 18h de ontem, prazo final concedido pelo presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), para instauração do processo contra os parlamentares. Às 17h48, José Borba (PR), ex-líder do PMDB, comunicou à Mesa Diretora da Câmara a decisão de abandonar o mandato. Mais indeciso, Paulo Rocha (PA), ex-líder do PT, só protocolou a renúncia às 17h59. Foram abertos processos no Conselho de Ética contra os seguintes deputados: João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), José Mentor (PT-SP), João Magno (PT-MG), Josias Gomes (PT-BA), José Janene (PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Vadão Gomes (PP-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Wanderval Santos (PL-SP). O dia foi de indecisão para grande parte dos 13 deputados denunciados. Com a instauração do processo no Conselho de Ética, não poderiam mais renunciar ao mandato e evitar a perda dos direitos políticos por oito anos. Izar estabelecera um prazo para dar tempo aos parlamentares refletirem sobre o assunto. Os deputados petistas se reuniram mais de uma vez para decidirem o futuro. O grupo do PP não se mobilizou em Brasília, decidiu antes submeter-se a processo. Logo pela manhã, os deputados petistas José Mentor, Josias Gomes e Paulo Rocha se encontraram no gabinete de Rocha. Os três e mais Professor Luizinho e João Paulo Cunha almoçaram na casa de Rocha e discutiram a situação de cada um. Abandonaram a estratégia de agirem em grupo, como haviam feito até ali. "A renúncia é uma decisão de foro íntimo. Não poderia ser em conjunto", explicou João Paulo. Foto: Sergio Lima/Folha Imagem

Outro indeciso era Borba, acusado de receber R$ 1,1 milhão do empresário Marcos Valério de Souza, considerado o operador do mensalão. O deputado passou o dia reunido com o advogado Roberto Bertoldo. Às 17h15, ainda não havia tomado uma decisão. "Ele não teria o direito de defesa. Os procedimentos até agora apresentados dão conta de que não há preocupação com a busca da verdade", afirmou Bertoldo. O advogado de Paulo Rocha, Kenneth Fleming, seguiu a mesma linha de Bertoldo: "Foi praticamente uma inquisição desde o início do processo. A própria Mesa da Câmara não fez enquadramento legal. Houve falta de oportunidade de defesa ampla. Ele não foi ouvido pelas CPIs". Uma assessora de Rocha apareceu como sacadora de R$ 420 mil das contas de Valério. Os onze deputados denunciados que preferiram não renunciar tiveram seus processos instaurados às 18h10 de ontem e, hoje, o Conselho de Ética sorteará os relatores para cada caso. Não poderão ser escolhidos parlamentares do mesmo partido ou estado do denunciado. O deputado José Mentor, que constava de todas as listas de prováveis renúncias, decidiu à última hora continuar a lutar pelo mandato. "Acho que no conselho nós seremos ouvidos e nossa defesa será levada em conta", afirmou o parlamentar, beneficiário de R$ 120 mil recebidos por seu escritório de advocacia de empresa de Marcos Valério. "Foi um trabalho jurídico. Não tem mensalão, não tem saque em banco", disse. Mentor entregou ontem o resultado de perícia feita pelo especialista da Unicamp, Ricardo Molina, sobre os recibos, notas fiscais e demais documentos referentes ao contrato de advocacia firmado com Marcos Valério. O professor considerou os documentos verdadeiros e livres de qualquer fraude. "É mais uma prova que apresento", disse. João Paulo Cunha também disse acreditar em processo mais isento do Conselho de Ética e do plenário da Câmara. "Estou convencido que haverá um julgamento justo", disse o ex-presidente da Casa. Ele não descartou, no entanto, ajuizar nova ação do Supremo para suspender ou extingüir seu processo. "Sempre vou recorrer quando ver meus direitos cerceados. Não tenho problema nenhum com isso", afirmou. Professor Luizinho disse que "não tinha como renunciar porque, depois disso, não poderia olhar nos olhos dos meus eleitores e dos meus familiares. O julgamento, mesmo político, não pode se dar sem uma base real". (Colaborou Cristiano Romero).