Título: CPI investiga repasses de recursos de Valério a Maluf
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Política, p. A8

Crise Dinheiro teria servido para manter Maluf na disputa em São Paulo; assessoria de ex-prefeito nega

Parlamentares da CPI Mista do Mensalão investigam possível repasse de R$ 13,7 milhões das contas do empresário Marcos Valério de Souza para financiar a campanha de Paulo Maluf à Prefeitura de São Paulo em 2004. A versão foi dada pelo deputado Vadão Gomes (PP-SP) em conversa informal com dois integrantes da comissão, que revelaram o teor das informações ao Valor. O deputado teria dito aos dois colegas que o dinheiro foi repassado ao PP para a candidatura de Maluf de duas formas. Uma parcela - R$ 3,7 milhões - teria sido recebida pelo próprio Vadão das contas de Marcos Valério. O valor confere com a lista elaborada pelo dono das agências SMP&B e DNA entregue à CPI Mista dos Correios, com a relação de repasses feitos por suas empresas. Valério diz ter entregue os R$ 3,7 milhões a Vadão em um hotel em São Paulo cujo nome não se recorda. Vadão nega de forma incisiva o recebimento de qualquer dinheiro do empresário ou de seus emissários. Na conversa com os dois colegas da CPI, o parlamentar teria apresentado uma versão diferente, mas nela reconheceria o recebimento do montante. A assessoria de Vadão nega qualquer conversa com colegas da CPI. Reitera que o deputado não recebeu nenhum dinheiro de Valério. A assessoria reforça, ainda, que a versão da entrega do dinheiro em um hotel não procede. O deputado entregou uma relação de documentos à CPI nos quais é possível verificar que ele não estava em São Paulo nas datas apresentadas pelo empresário. Os documentos ainda estão em análise. O resto do dinheiro - R$ 10 milhões - teria sido repassado por Valério diretamente ao PP, segundo a versão de Vadão aos dois parlamentares. O estratagema petista visava favorecer a candidata do partido à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy. O dinheiro seria um "incentivo" para Maluf manter a candidatura e dividir os votos com o tucano José Serra. "Vadão me falou que foram R$ 13,7 milhões no total para Maluf", revelou um deputado da CPI do Mensalão ao Valor. Zulaiê Cobra, sub-relatora da CPI do Mensalão, confirma a suspeita: "Nós sabemos que o PT sustentou a campanha do Maluf. Precisamos saber como esse dinheiro foi repassado pelo Valério". A permanência de Maluf na disputa forçaria um segundo turno entre Marta e Serra, favorito segundo as pesquisas da época. Maluf recebeu 736 mil votos (11% dos válidos), o suficiente para levar a disputa para o segundo turno. Zulaiê acusou o esquema petista de alimentar Maluf na disputa contra Serra. "Eu perguntei ao Marcos Valério e ele me confirmou que repassou dinheiro à campanha do Maluf", diz. Ela relata uma conversa que teve com Vadão: "O Vadão me perguntou o que ele deveria fazer. Eu disse para ele renunciar, porque tá provado que ele recebeu", disse. "Aí, eu disse que ele deveria revelar o que fez com o dinheiro. Ele respondeu que não contaria de jeito nenhum. Nesse caso, disse que só lhe restava a renúncia", afirmou a deputada. A versão atribuída a Vadão pelos dois deputados da CPI do Mensalão se aproxima daquela apresentada pelo doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, à CPI em sessão secreta no dia 20 de setembro. Naquela ocasião, Barcelona reconheceu operações feitas para o esquema de Marcos Valério a partir do exterior, com a Trade Link Bank, que é um braço do Banco Rural. A triangulação era feita com o doleiro Dário Messer, no Uruguai, em parceria com a corretora Bônus-Banval, na versão de Barcelona. No depoimento, o doleiro diz que o líder do PP, José Janene (PR), apresentou a Bônus-Banval ao PT. E que o esquema teria movimentado R$ 8 milhões para o partido de Maluf. O dinheiro iria para caciques do PP. "Na nossa conversa, Vadão me disse que essa versão não procede. Que todo o dinheiro foi repassado à campanha de Maluf, por meio de caixa 2", diz um dos deputados da CPI do Mensalão. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Maluf declarou gastos de R$ 1,3 milhões. O doleiro afirmou, ainda, que a CPI do Banestado deveria ter convocado Maluf para depor e explicar ligações com outros doleiros. Zulaiê ataca o relator da CPI do Banestado, José Mentor, pela não convocação de Maluf. "Na época da eleição eu já havia acusado o Mentor. Hoje, sabemos realmente o que houve", disse. O assessor de imprensa de Maluf, Adilson Laranjeira, negou que a campanha do ex-prefeito tenha recebido recursos do PP nacional e estadual. De acordo com o assessor, a campanha foi bancada com recursos próprios do candidato e de seu comitê de campanha em São Paulo.