Título: Exportadores de suínos freiam pacto com Rússia
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Agronegócios, p. B11

Comércio

Os exportadores brasileiros de carne suína frearam ontem a intenção do governo de anunciar hoje o apoio oficial do Brasil à entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC), descontentes com os termos da barganha revelada pelo Valor. Ao tomar conhecimento do acordo negociado em Genebra no sábado, a Abipecs (reúne os exportadores de suínos) reclamou com o Itamaraty que estava descontente. Ao invés de aumentar as cotas para o produto brasileiro, os russos prometeram que o Brasil poderia ocupar as cotas não preenchidas por outros países. "Não há real garantia de ganhos", disse o presidente da entidade, Pedro de Camargo Neto, que desembarcou ontem à tarde em Moscou. "Os europeus e os outros não vão querer dar as cotas deles (...)". Camargo disse que há um ano vinha alertando o Itamaraty para só dar o sinal verde aos russos em troca de garantia real de melhora nas exportações. A Rússia responde por 70% dos embarques de carne suína do Brasil. Os diplomatas propuseram aos russos incluir no protocolo bilateral dois pontos. Primeiro, que desde que entrasse na OMC, Moscou tomaria todas as medidas legais para manter até 2010 as atuais condições de mercado para o Brasil, inclusive através das cotas não utilizadas pelos outros países. E segundo, se essa concessão fosse questionada pelos outros membros da OMC, a Rússia reduziria antecipadamente a tarifa extra-cota para 40%, que está previsto para 2009, ao invés de baixar dos 80% atuais para 60% na primeira etapa. Os produtores de suínos ficariam contentes. O governo russo, não. "Estou pessimista", disse, já quase de madrugada em Moscou, o chefe do Departamento Comercial do Itamaraty, embaixador Piragibe Tarrago, sobre as chances de o anúncio ser realizado pelo presidente Lula em visita ao presidente Vladimir Putin. O presidente da Abiec (reúne os exportadores de carne bovina), o ex-ministro Pratini de Morais, também presente em Moscou, recuou igualmente. Na sexta-feira, ele passou por Genebra e não escondeu a importância de aceitar logo um entendimento com os russos, segundo fontes. Mas ontem à noite, depois de ouvir os argumentos da Abipecs, mostrou-se mais prudente e defendeu garantia de "conforto" futuro para as exportações. Se não der para fechar hoje o acordo, as negociações vão prosseguir. A Rússia tem intenção de entrar na OMC no primeiro semestre do ano que vem. Por sua vez, o presidente da Bunge Internacional, Alberto Weisser, alertou que o futuro para as exportações do Brasil na Rússia não é carne. "A tendência é de que os russos aumentem a produção de carnes, que cria muito emprego." Ele disse que sua avaliação se baseia no aumento enorme de exportações de farelo da própria Bunge para a Rússia, destinado à alimentação de porco e frango.