Título: Cartões vão em busca da alta renda
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Finanças, p. C1

Meios de Pagamento Produtos para os muito ricos chegam até 2006

A American Express (Amex) e a MasterCard estão para lançar no Brasil novos cartões voltados para o público de alta renda. O Centurion, da Amex, e o World, da MasterCard, devem chegar ao mercado brasileiro até o ano que vem, com pacotes de serviços, seguros e benefícios adicionais em relação ao que estas operadoras já oferecem para a classe "A". Cristina Paslar, diretora de Produtos de Crédito da MasterCard, explica que o cartão World (hoje só distribuído nos EUA, Europa e Japão) será um produto específico para os programas dos bancos emissores voltados para este público, como o "Van Gogh" do Banco Real, "Prime" do Bradesco, "Estilo", do Banco do Brasil, e o já mais antigo Personnalité, do Itaú. A Amex também está abrindo, pela primeira vez, uma linha de crédito rotativo dentro da versão de seu cartão "top de linha", o Platinum (já distribuído no país), a juros mais baixos que o rotativo comum (3,99% ao mês, contra 8% a 12% dos outros). A versão Platinum Credit terá uma oferta para atrair clientes da concorrência: o refinanciamento do saldo de dívidas de outros cartões, com juros de apenas 1,99%. O crédito é um atributo do cartão para qualquer um, porém não no caso do Platinum da Amex, em que o cliente não tem limite de gastos (pode até comprar carros e jóias). Em compensação, tem que quitar a conta no vencimento da fatura. Na Visa e na MasterCard, o crédito é negociado entre o titular do cartão e o banco emissor. "Platinum" é a denominação adotada pelas três operadoras no cartão voltado para a alta renda. O que os diferencia dos distribuídos para o público em geral são os pacotes de seguros e benefícios, principalmente o chamado "concierge 24 horas", uma central de atendimento que faz qualquer coisa que o cliente peça, desde procurar, comprar e mandar flores e presentes, até coisas mais exóticas, como mandar fazer uma fantasia para uma festa. Os programas de milhagem são flexíveis, cada dólar gasto pode ser trocado por mais de uma milha, de qualquer companhia aérea do mundo, ou em outros benefícios, por exemplo, "uma viagem de balão", diz Eduardo Chedid, vice-presidente de Produtos da Visa, que tem três tipos de cartões para a alta renda: Infinity, Platinum e Signature. Estes, assim como os cartões Centurion e World, não são vendidos: seus titulares são convidados a entrar para o "clube", desde que sejam clientes com histórico na marca, nível de renda e gastos mais elevados. Os clientes Centurion - atualmente distribuído apenas nos EUA, Reino Unido, Alemanha, Hong Kong e México - têm tudo isso mais uma extensa lista de benefícios diferenciados como um consultor exclusivo ("personal stylist") em lojas como a Harrods, Bulgari e Saks. Tanto privilégio não é barato: a anualidade de um cartão desses pode chegar a R$ 1 mil. Mesmo que essas pessoas não tenham tantas necessidades quanto a maioria dos portadores de cartões, a Amex entendeu que crédito é uma demanda: "Há pessoas de alta renda que precisam de uma flexibilidade financeira por diversos motivos, ou porque fizeram um investimento muito elevado ou tiveram uma queda de receita temporária", explicou Helio Magalhães, presidente da Amex. E completa: "Estamos segmentando a alta renda". Em tempos de disputa por clientes nas classes C, D e E, as operadoras revelam que ainda têm muito o que avançar nas classes A e B. Embora a média de cartões entre as pessoas mais ricas seja de quatro por titular, Helio Magalhães, da Amex, conta que, na verdade, 30% das pessoas de renda no topo da pirâmide social brasileira não têm nenhum cartão e muitas que têm usam muito pouco. Paslar, da MasterCard, conta que uma pesquisa recente encomendada pela operadora ao instituto Nielsen, para traçar o perfil do público classe A, revelou que 75% deles usam cartão para apenas 15% de suas compras - a maior parte usa dinheiro e cheque. "Ou seja, há espaço para crescer nessa relação", afirma Paslar. A pesquisa revelou também, segundo ela, que há dois tipos de perfis nesse público, um que busca serviços e outro que busca sofisticação e prestígio. Nem sempre os que buscam serviços querem ser identificados pelo cartão e acham que não precisam de crédito, mas estão buscando facilidades.