Título: Para Barclays Capital, BC compra dólar só para evitar mais valorização do real
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2005, Finanças, p. C2

Para os analistas do Barclays Capital, a preocupação do Banco Central com a valorização do real é a razão mais provável para a compra de dólar no mercado à vista - e não o nível de reservas internacionais do país. "Por praticamente qualquer padrão, o Banco Central brasileiro já acumulou um nível confortável de reservas", dizem os analistas Michael Hood e Gautam Jain. Os últimos números oficiais disponíveis - do fim de agosto - mostram reservas líquidas (não incluem dinheiro do Fundo Monetário Internacional) de US$ 40,4 bilhões, segundo o Banco Central. Mas o Barclays Capital estima que elas estejam hoje em US$ 43,2 bilhões. Só para comparação, as reservas líquidas estavam em US$ 20,5 bilhões no fim de 2003 e em US$ 27,5 bilhões no fim do ano passado, de acordo com o BC. "Os indicadores de solvência do país envolvendo as reservas melhoraram de forma dramática", afirmam os dois analistas em relatório. As reservas líquidas internacionais como uma parcela da dívida externa de curto prazo passaram de 101,6% no final de 2003 para aproximadamente 258,0% hoje, calculam os especialistas. Hoje, as reservas representam mais de 20% da dívida externa total do país, na comparação com os 8,7% no fim de 2003. Michael Hood e Gautam Jain notam que as reservas brasileiras cobrem hoje 87% do M1 (papel moeda em poder do público mais depósitos à vista) e aproximadamente 20% do M2 (M1 mais depósitos especiais remunerados, depósitos de poupança e títulos emitidos por instituições depositárias), apesar da remonetização da economia nos últimos dois anos vivida pelo Brasil. O BC vem dizendo que só está realizando as compras de dólar à vista de olho nas reservas internacionais, o mesmo discurso adotado no ciclo anterior de intervenções, entre dezembro de 2004 e março de 2005. Agora, no entanto, as intervenções têm sido em volumes menores, notam os dois analistas. "Evidentemente, escolher um nível apropriado de reservas é notoriamente difícil: em tempos normais, quase qualquer volume de reservas é excessivo, enquanto em tempos de crise nenhuma quantidade é suficiente", diz o relatório. Apesar disso, "o elevado estoque de reservas, considerando-se padrões históricos, implica que a preocupação com o fortalecimento persistente do real representa uma causa mais provável para a intervenção atual do que uma preocupação com uma posição de reservas insuficientes", concluem os especialistas.