Título: Programa do computador popular pode ter subsídio de R$ 200 milhões
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2004, Brasil, p. A-2

A implementação de uma política industrial para o setor de informática terá como um de seus eixos centrais, a partir de 2005, o programa de popularização de computadores que o governo pretende lançar nas próximas semanas. O Ministério da Fazenda comprometeu-se a liberar R$ 200 milhões em subsídios para a compra de equipamentos com uma configuração mínima e acesso à internet ao preço máximo de R$ 1,2 mil, financiados em 24 prestações de R$ 50. A equipe econômica garantiu que autorizará a concessão de mais R$ 200 milhões para a continuidade do projeto em 2006, se ele for bem-sucedido no primeiro ano. O governo trabalha com a estimativa de que 1,6 milhão de famílias de baixa renda - com renda mensal entre três e dez salários mínimos - estariam dispostas a comprar um micro imediatamente se tivessem facilidades como as do programa. A idéia, por enquanto, é vender até um milhão de PCs populares por ano. O projeto deverá ser lançado a tempo de pegar o apelo comercial do período de volta às aulas. Terão acesso aos subsídios os fabricantes que cumprirem os requisitos exigidos pelo governo. Essa subvenção baixará o preço final do PC para o público-alvo do projeto. Com o lançamento, existe uma perspectiva de que o mercado cinza de computadores - em que pelo menos parte das peças é ilegal - caia dos atuais 70% para cerca de 20% em três anos. Com os ganhos de escala e previsibilidade, o governo espera baixar o preço dos computadores e dar nova dinâmica a todo o setor. As negociações com os fabricantes para fechar o valor final do PC popular ainda estão em curso. "Queremos que as eventuais medidas para o controle do contrabando sejam refletidas no preço unitário do computador, assim como o estímulo que o programa dará em termos de política industrial", afirma César Alvarez, assessor especial da Presidência da República que coordena o projeto. "Estamos trabalhando com uma visão de médio e longo prazos", acrescenta. Segundo estudo preparado para o governo pelo Instituto Brasileiro de Convergência Digital (IBCD) e pela Trevisan Associados, a demanda pelo PC entre o público-alvo do programa é de 7,5 milhões de computadores em três anos. A região Sudeste concentra o maior potencial de venda. "O projeto é viável", assegura o presidente do IBCD, Ruy Mendes, que trabalha junto com o governo na elaboração do programa. Um dos problemas ainda enfrentados pelo governo é a resistência dos fabricantes em baixar o preço do equipamento. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que representa as empresas do setor, chegou a um valor mínimo próximo de R$ 1,5 mil. O governo o considera alto. Embora o subsídio de R$ 200 milhões para o ano que vem esteja assegurado pela equipe econômica, a redução do preço faria com que um número maior de famílias pudesse ter seus PCs subsidiados. "Dá para baixar o preço para uns R$ 1,2 mil", afirma Mendes, com o aval de uma entidade que reúne a Brasil Telecom, a Intel e a IBM entre seus associados. O estudo elaborado pelo IBCD e pela Trevisan faz uma avaliação de programas similares de popularização dos computadores em quatro países: Coréia, Malásia, Tailândia e Indonésia. O objetivo foi municiar o governo de informações para evitar erros cometidos em outros lugares. Um ponto que dificultou o sucesso e, por vezes, até o lançamento desses programas foi a dificuldade em operacionalizar as vendas e o excesso de rigor na aprovação de crédito.