Título: Críticas de Lula fortalecem Rodrigues
Autor: Marli Lima e Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2005, Agronegócios, p. B13

As críticas do presidente Lula aos pecuaristas mudaram o eixo da discussão sobre as responsabilidades pela crise da aftosa. De quebra, ajudaram a arrefecer os ataques à gestão do ministro Roberto Rodrigues na Agricultura. Produtores, sindicalistas, parlamentares e secretários de Agricultura passaram a usar os cortes orçamentários impostos ao ministério para atingir Lula e sua "declaração infeliz" - o presidente imputou culpa aos pecuaristas, que não teriam vacinado seus rebanhos. Até então, aliados da bancada ruralista e colegas de governo criticaram duramente, nos bastidores, a lentidão nos gastos do ministério - até o último dia 6 foram efetivamente desembolsados apenas 9,52% do limite autorizado para investimentos. Diante disso, o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, o pefelista Ronaldo Caiado (GO), classificou como "fraquíssima" a equipe de Rodrigues. Mas o clima parece ter começado a mudar. A "ajuda" de Lula dissipou as críticas a Rodrigues e sua equipe, atraindo censuras para a rigidez do ajuste fiscal promovido pela equipe econômica e a incapacidade e desarticulação do governo. Rodrigues ganhou uma sobrevida com a crise aberta por Lula, avaliam parlamentares ruralistas. A reação dos importadores da carne brasileira foi dura, mas restringiu-se sobretudo aos produtos de Mato Grosso do Sul. Há chances reais de levantar embargos importantes, como os da Rússia e da União Européia, nas próximas semanas. Roberto Rodrigues ganhou um refresco também dos secretários estaduais de Agricultura, que se reuniram em Brasília na sexta-feira. Em nota, pouparam o ministério em troca da suavização do trânsito de animais entre os Estados (ver matéria abaixo). Na sexta, o ministro estava menos tenso do que nos dias seguintes à descoberta do foco. "Aliviado" e em clima "distendido", segundo avaliações de amigos e auxiliares. Em evento na faculdade onde se formou, e com a qual mantém fortes vínculos afetivos, recebeu apoios e sinais de que sua situação no governo mantém-se estável . Com a cabeça a prêmio pela primeira vez desde 2003, optou pelo desabafo. Voltou a classificar de "insuficientes" e "irrisórios" os recursos para a defesa agropecuária. Mas ponderou que a aftosa poderia ter surgido mesmo que o governo tivesse mantido os recursos intactos. Menos desconfortável no cargo, pregou a proteção aos produtores "corretos". De certa forma, mandou um recado a Lula de que corrobora sua tese sobre a parte de responsabilidade que realmente cabe aos pecuaristas.