Título: Conservador, BC deve cortar juro em apenas meio ponto
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2005, Finanças, p. C1

Alívio Monetário Para maior parte dos analistas, Copom vai reduzir taxa Selic de 19,50% para 19%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, cuja reunião de outubro termina na quarta-feira, deverá intensificar o movimento de desaperto monetário iniciado em setembro. A maior parte dos analistas consultados pelo Valor na sexta-feira acredita que o Copom cortará a Selic em 0,50 ponto percentual. Hoje em 19,50%, o juro básico desceria a 19% para 11 dos 16 analistas pesquisados. Para os outros cinco, o BC manterá o ritmo de 0,25 ponto com que iniciou, no mês passado, o ciclo de afrouxamento, após quatro meses de congelamento da taxa no patamar de 19,75%. O histórico de conservadorismo da atual gestão do Banco Central suscita a questão do que seria uma decisão cautelosa e conservadora neste momento de recrudescimento das inquietações externas: cortar a taxa em 0,25 ou em 0,50 ponto? Para manter a coerência com o seu passado de rigor monetário, o Copom se encaminharia em qual direção? No entender dos economistas do CSFB, para manter o mesmo conservadorismo exibido ao longo do ciclo de aperto, ocorrido entre setembro de 2004 e maio de 2005, basta ao Copom reduzir a taxa em 0,50 ponto. Para o banco, a dinâmica da inflação recente e os baixos riscos existentes justificam um corte "conservador" desse tamanho. A LCA Consultores concorda com o raciocínio. Para sua equipe de analistas, se o Copom optar por manter o ritmo de queda de 0,25 ponto com o qual iniciou o ciclo de desaperto, estará, na verdade, aumentando a dose da ortodoxia. As decisões de política monetária que o Copom tomará nas três últimas reuniões deste ano só começarão a surtir resultados concretos entre o primeiro e o segundo trimestres de 2006. O atraso, decorrente do elevado grau de informalidade da economia brasileira, da capitalização das empresas nacionais e das linhas de crédito relativamente subsidiados em comparação com os custos bancários normais - como o crédito consignado e os empréstimos atrelados à TJLP -, é, em certo aspecto, uma boa notícia. É que os juros não precisarão ficar muito elevados no ano que vem, dada a baixa inflação a ser transferida de 2005 para 2006. Os preços administrados serão corrigidos por índices muito baixos. "Com isso, é provável que se reduza a rigidez inflacionária do IPCA em 2006", diz o CSFB. Mas, como lembra o consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, o retardo do impacto das decisões sobre juros pode ser nefasto se o BC demorar demais em intensificar o aperto. Os cortes podem chegar tarde demais. "Se ele não reduzir a taxa agora em 0,50 ponto, pode fechar a cortina do espetáculo do crescimento antes da hora", diz. Para o diretor-superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, há condições para um corte de até 0,75 ponto. As metas de inflação para 2005 e 2006 (5,1% e 4,5%, respectivamente) não correriam risco mesmo se o ritmo de queda fosse amplificado. Mas já que o BC é conservador, a opção se encaminha para redução máxima de 0,50 ponto. Rabêllo observa que até recentemente o efeito do elevadíssimo juro real estava amortecido, por causa da expansão do crédito. O BC precisava de muito juro para conseguir o resultado pretendido. Agora não mais. O crédito, sobretudo o consignado, expandiu-se até o limite e comprometeu a renda futura. Ele atua como fator contracíclico. Agora, ajuda a política monetária. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, diz que a primeira baixa de 0,25 ponto foi apenas uma mensagem. Todos os elementos postos em análise recomendam agora corte de 0,50 ponto. A ala dos economistas que aposta numa opção "reconservadora" - baixa de apenas 0,25 ponto - elenca várias justificativas à disposição do BC. A primeira, lembra o economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes, é a aceleração da inflação presente. Após seis meses de deflações agrícolas e quatro meses de deflações industriais, os preços dão sinais de avanço. Nessas horas, o BC gosta de adotar postura de ver para crer: as intervenções são mínimas até que se conheça por completo o desdobramento dos fatos. O economista-chefe da Global Invest Asset, Alex Agostini, cita mais argumentos na prateleira da ortodoxia. O vigor demonstrado pela atividade industrial e a melhora do rating do Brasil feito na semana passada pelo Moody's deixam o BC muito confortável. Esses dados cristalizam o discurso oficial de que se está trilhando o bom caminho, e nada precisa ser mudado. A instabilidade internacional recente - a aversão a risco ampliou-se com o surgimento do temor de que o Federal Reserve (Fed), poderá intensificar o aperto americano -, poderá conduzir o BC à atitude ultracautelosa. Três economistas ouvidos pelo Valor - Jason Vieira, da GRC Visão, Solange Srour, da Mellon, e Rodrigo Boulos, tesoureiro do Banif Primus Investimento - estavam inclinados à previsão de uma baixa de 0,50 ponto, mas alteraram o prognóstico para 0,25 ponto depois da irrupção das turbulências externas. "O BC dá prioridade às vezes às tendências de curto prazo", diz Vieira. Entre os economistas que prevêem redução de 0,50 ponto, Adauto Lima, do WestLB, diz que o Copom tende a encarar a turbulência como passageira. Essa visão não recomenda a adoção de reforço monetário antes de se conhecer a extensão dos estragos. O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, acredita que os eventos internacionais estão rigorosamente dentro do script, por isso não servem como desculpa para o BC dar vazão a seu instinto conservador. "Não há nada novo em se prever a continuidade da alta do juro americano por mais duas ou três reuniões do Fed", diz.