Título: Múltis importam menos e ajudam superávit comercial
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2004, Brasil, p. A-4

As multinacionais contribuíram mais do que as grandes empresas nacionais para o forte aumento do saldo da balança comercial brasileira nos últimos três anos. Embora as companhias de capital nacional estejam exportando um quarto do que produzem, a queda do nível das importações das empresas estrangeiras, após a desvalorização cambial de 1999, foi decisiva para a melhora das contas externas. Conforme levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), obtido pelo Valor, o superávit comercial das 218 maiores empresas industriais do país (124 multinacionais e 94 de capital nacional) saltou de US$ 9,2 bilhões em 2000 para US$ 17 bilhões em 2003, o que significa 68% do saldo comercial total do país. O superávit obtido pelas grandes empresas aumentou, portanto, US$ 8 bilhões nos últimos três anos. O grupo de multinacionais respondeu por dois terços do incremento por conta da elevação do seu saldo comercial de US$ 1,13 bilhão em 2000 para US$ 6,1 bilhões em 2003. Apesar de ainda importarem significativamente mais que as companhias nacionais, as multinacionais reduziram suas compras no exterior em 2002. As importações das filiais de empresas estrangeiras caíram 15,2%, de US$ 12,3 bilhões em 2001 para US$ 10,4 bilhões em 2002. Já as empresas nacionais tiveram baixa de 8,2% nas compras externas, de US$ 4,43 bilhões em 2001 para US$ 4,05 bilhões em 2002. As importações das grandes empresas instaladas no país voltaram a subir em 2003 e devem seguir essa mesma tendência em 2004. Só que, no ano passado, o aumento relativo das importações das empresas nacionais foi superior ao das estrangeiras. As grandes companhias brasileiras elevaram suas importações para US$ 4,8 bilhões em 2003, o que significa alta de 8,5% ante 2002. As multinacionais aumentaram suas importações apenas 3% em relação a 2002, atingindo US$ 10,7 bilhão em 2003. "As empresas estrangeiras fizeram a diferença, porque o valor absoluto de suas importações é muito alto", explica Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. Ele acrescenta, porém, que uma análise do coeficiente de importação (valor importado em relação à receita líquida) mostra que as empresas nacionais foram mais eficientes na hora de substituir insumos importados. O coeficiente de importação das empresas nacionais (medido em relação a receita operacional líquida) caiu de 8,2% em 2000 para 6,4% em 2002 e subiu para 6,9% em 2003. Já a participação das importações na receita das empresas estrangeiras recuou de 16,8% para 14,9% em 2002 e aumentou para 15,6% no ano passado. "Os produtos fabricados pelas empresas nacionais, em geral, exigem insumos menos sofisticados, razão pela qual é mais fácil substituir", explica Almeida, do Iedi. Nas empresas nacionais, a queda no coeficiente de importação ocorreu na maioria dos setores, com destaque para os que apresentam o maior nível de insumos comprados no exterior. É o caso de equipamentos para escritório e informática, cujo coeficiente saiu de 34,2% em 2000, atingiu 23,8% em 2002 e oscilou para 24,5% em em 2003. No caso das multinacionais, aconteceram reduções muito expressivas dos coeficientes de importação em alguns setores. Em material eletrônico e de telecomunicações, o percentual saiu de 31,1% em 2000, bateu 21,3% em 2002 e subiu para 26,6% em 2003. Para veículos automotivos, o coeficiente de importações caiu de 20,6% em 2000 para 18,2% em 2003. As grandes empresas nacionais e estrangeiras aumentaram as exportações quase na mesma proporção nos últimos três anos. Os embarques externos das empresas nacionais subiram 28,9%, saindo de US$ 12,1 bilhões em 2000 para US$ 15,7 bilhões em 2003. Já as exportações das multinacionais aumentaram de US$ 13,5 bilhões em 2000 para US$ 16,8 bilhões em 2003, o que significa aumento de 24%. É alto o grau de dependência das exportações das empresas nacionais em relação aos produtos básicos. As commodities responderam por 77,2% do aumento dos embarques dessas empresas e aumentaram sua participação no total exportado de 48,6% em 2000 para 55% em 2003. No caso das multinacionais, as commodities representam 31,9% das exportações, mas os produtos de média intensidade chegam a 45%, puxados por automóveis. As empresas nacionais exportam hoje uma parcela mais expressiva de suas exportações do que as multinacionais. O coeficiente de exportação (exportações ante à receita operacional líquida) das companhias brasileiras subiu de 21,2% em 2000 para 24% em 2003. A expectativa do Iedi é que esse percentual chegue próximo a 30% esse ano. "O fato de as empresas nacionais estarem exportando um quarto do que produzem demonstra que não se trata de coisa de empresário oportunista. Existe uma estratégia voltada para à exportação", acredita Almeida. As multinacionais exportaram 17,4% do que produziram em 2003. O percentual, mesmo inferior ao das nacionais, também representa um salto em relação ao patamar pouco acima de 15% registrado em 2000, 2001 e 2002. O Iedi calcula que o coeficiente de exportação das estrangeiras deve superar 20% em 2004. No total, empresas nacionais e estrangeiras elevaram a participação das exportações na receita de 17,9% em 2000 para 20,3% em 2003. Para Almeida, do Iedi, é natural que o coeficiente de exportação das multinacionais seja menor, pois essas empresas contam com outras plataformas de exportação, que possuem infraestrutura e a tributação mais baratas. "As múltis ainda vêm para o Brasil com o foco no mercado interno. Mas está mudando. O setor automotivo é um exemplo". O crescimento da participação das exportações na receita das empresas ocorreu de forma generalizada. O coeficiente de exportação das grandes empresas aumentou em 17 dos 21 setores analisados pelo Iedi. Na área de alimentos, o coeficiente de exportação das empresas de capital nacional saltou de 15,6% em 2000 para 25,5% em 2003. Entre as múltis desse setor, houve aumento de 23,2% em 2000 para 31,8% em 2003. O setor de alimentos inclui empresas nacionais como a Sadia, que exporta frango, e multinacionais como a Bunge, que embarca óleo de soja. A participação das exportações na receita das companhias nacionais do setor têxtil saltou de 21,3% para 34,8%. Entre as multinacionais, destaque para o setor automotivo, que subiu de 23,1% para 25,3%.