Título: Receita de leilão supera US$ 1 bi em dois dias
Autor: Chico Santos e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2005, Brasil, p. A3
Energia Licitação de 251 áreas de exploração de petróleo e gás tem recorde de arrecadação em uma rodada
O segundo dia de leilões da 7ª Rodada de licitações de áreas de exploração de petróleo e gás, promovida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), marcou a quebra do recorde de arrecadação de bônus de concessão em uma só rodada. O total arrecadado nos dois dias soma R$ 1,08 bilhão em 251 áreas. O diretor-geral da agência, Haroldo Lima, classificou os resultados de "excepcionais". De acordo com programas exploratórios mínimos definidos nas áreas arrematadas, são previstos investimentos de US$ 1,5 bilhão em seis anos. O resultado contraria expectativas de agentes do mercado, que antes da confirmação dos pré-qualificados esperavam uma procura pífia, seja pela instabilidade das regras - especialmente para o gás -, seja pela dúvida em relação à qualidade dos blocos oferecidos. Para o analista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, o alto preço do barril de petróleo e a preocupação com o tamanho das reservas mundiais de óleo explicam o apetite dos investidores. A Petrobras investiu R$ 503,5 milhões para arrematar 96 blocos, e aparece como operadora em 70 deles. Mas os leilões de ontem consolidaram também a forte presença de pequenas empresas, focadas, principalmente, em áreas próximas a campos terrestres maduros. A Petrobras, em parceria com a BG Energy , foi responsável pela maior oferta em um só bloco, o 508 da Bacia de Santos por R$ 160,17 milhões, recorde individual, em valores nominais, na história das rodadas da ANP. O bloco fica ao lado do BM-S-400, onde está a reserva de gás de Mexilhão, a maior já descoberta no país, confirmando que a 7ª Rodada foi marcada pela busca de reservas de gás. A BG Energy, gigante britânica do gás, ajudou a consolidar a vocação dos leilões ao fazer, em parceria com a espanhola Repsol YFP, as outras duas maiores ofertas dos leilões, levando os blocos 615 e 672 da bacia de Santos por, respectivamente, R$ 85,68 milhões e R$ 82,32 milhões. Outras empresas que consolidaram posições são a Devon, Newfield e Amerada Hess. A Shell, uma das três maiores empresas do setor no mundo, que havia entrado timidamente e sem sucesso no primeiro dia, levou ontem cinco blocos nas bacias de Santos e do Espírito Santo, sendo três em parceria com a Petrobras. O foco da Shell também foi a busca de reservas de gás. A Shell e BG têm mercado para o gás, pois são donas da Comgás, maior distribuidora do Brasil. Outra com mercado para o insumo é a Repsol, que através da Gás Natural controla as distribuidoras CEG e CEG Rio. O vice-presidente de exploração e produção da Shell, John Haney, disse que as maiores perspectivas nas áreas arrematadas são de gás, mas também espera encontrar óleo leve. A Shell já participa do desenvolvimento do campo de Golfinho, no litoral do Espírito Santo, uma importante reserva de gás. Com os blocos arrematados ontem, a Shell passou a ter, sozinha ou em consórcios, 15 áreas exploratórias no país. A empresa já produz cerca de 40 mil barris de óleo por dia na Bacia de Campos (RJ). Haney admitiu que a Shell e a Petrobras acabaram pagando caro por um dos blocos conquistados, o ES-M-437 (Espírito Santo Marítimo-437). Na expectativa de uma forte disputa, ofereceram R$ 45,3 milhões por uma área cujo preço mínimo era de R$ 640 mil. Mas não houve outra oferta. Outra novidade na área das grandes empresas, foi a volta da estatal italiana ENI SpA, uma das estrelas do primeiro leilão, em 1999, que depois minguou seus investimentos na área. Depois de ter vendido a Agip Liquigás, sua distribuidora de GLP, para a Petrobras, a Eni investiu R$ 22,35 milhões para arrematar, sozinha, uma área marítima na Bacia Camamu-Almada, na Bahia. Já a espanhola Repsol voltou a mostrar ontem, de forma redobrada, o apetite do primeiro dia. Na área de águas rasas da Bacia de Santos, ficou sozinha com oito das 12 áreas arrematadas e dividiu duas com a BG Energy. O diretor da ANP destacou, entre os fatores positivos da rodada, que prossegue hoje, a diversidade de empresas, em nacionalidade e porte. Empresas grandes e médias, nacionais e estrangeiras, disputaram, com o mesmo apetite, áreas marítimas e terrestres. Algumas já conhecidas e consideradas maduras, como o Recôncavo baiano e as áreas de Sergipe e Alagoas, e áreas consideradas de nova fronteira, como as Bacias de São Francisco (MG) e Solimões (Amazônia). Algumas novatas mostraram apetite, como a argentina Oil M&S e a mineira Geobrás, que literalmente "cercaram" blocos arrematados pelas gigantes Petrobras e pela BG na Bacia do São Francisco. A Oil M&S foi audaciosa, comprando área próxima ao campo de Urucu, na floresta amazônica, onde a Petrobras produz gás. Para Flávio Barreto, diretor de exploração e produção da Sinergy Group Corp (originária do grupo Marítima Petróleo), uma das médias empresas que conquistaram novas áreas nos leilões, a rodada "consolidou um nicho para o desenvolvimento de um mercado de produtores independentes na indústria do petróleo do Brasil".