Título: Conselho define, em sorteio, relatores de 11 processos
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2005, Política, p. A5

Crise Ângela Guadagnin, crítica da CPI, relatará cassação de Janene

O Conselho de Ética sorteou ontem os relatores dos processos instaurados contra onze deputados acusados de participação no esquema do mensalão. O método de escolha foi adotado pelo presidente do colegiado, Ricardo Izar (PTB-SP), para evitar pressões dos denunciados na escolha de parlamentares que lhes agradassem para conduzirem seus processos. Os denunciados terão cinco sessões para apresentar as defesas prévias e testemunhas de defesa. Preocupado com o grande número de processos em andamento - além desses onze, já tramitam no conselho representações contra José Dirceu (PT-SP), Romeu Queiroz (PTB-MG), e Sandro Mabel (PL-GO) -, Izar já conversou com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), para tratar da possibilidade de haver convocação extraordinária no recesso de fim de ano. "Ficou acertado que, se preciso, a Câmara terá autoconvocação não remunerada para o conselho concluir seus trabalhos", disse Izar. O colegiado tem 90 dias para terminar os processos. Estima-se que mais de 80 testemunhas serão apresentadas e darão depoimentos ao Conselho. O deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), relator do processo de cassação do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), foi escolhido para analisar o caso de João Magno (PT-MG). Em documentos encaminhados pelo Banco do Brasil às CPIs, aparece um pagamento de R$ 50 mil para um assessor do parlamentar. No Banco Rural, constam quatro pagamentos que, somados, chegam a R$ 117 mil. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) terá um pemedebista como relator do seu processo. O gaúcho Cezar Schirmer analisará o caso de João Paulo, incluído no esquema por conta de um saque de R$ 50 mil feito pela esposa, Márcia Regina Cunha, no Banco Rural em Brasília. A primeira versão apresentada pelo deputado era de que Márcia tinha ido ao banco pagar uma conta de TV a cabo. Depois, reconheceu ter recebido o dinheiro para financiar a campanha do PT em Osasco (SP) em 2004. Josias Gomes (PT-BA) fez dois saques de R$ 50 mil, pessoalmente, no Rural. Seu destino será analisado por Antonio Carlos de Mendes Thame (PSDB-SP). Já o Professor Luizinho (PT-SP), beneficiário de R$ 20 mil das contas do empresário Marcos Valério de Souza terá o deputado Pedro Canedo (PP-GO) como relator. Na versão do parlamentar, o dinheiro foi usado em caixa 2 de campanhas de vereadores em São Paulo. José Mentor (PT-SP) terá como relator, o pefelista Edimar Moreira (MG). À acusação de ter recebido R$ 120 mil das contas de Valério, Mentor responde tratar-se de remuneração por um serviço jurídico prestado por seu escritório de advocacia. Vadão Gomes (PP-SP), apontado por Valério como recebedor de R$ 3,7 milhões (fato negado pelo parlamentar), terá o processo relatado também por um pefelista: Moroni Torgan (CE). O presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), terá como relator o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), ex-promotor de Justiça e um dos mais atuantes da CPI dos Correios. O presidente do PP comemorou a escolha de Sampaio. "É um deputado de credibilidade, que irá ter uma atuação isenta. Tenho certeza de que ele vai me inocentar", disse Corrêa. O relator não gostou da declaração: "Não seria correto ele se antecipar na certeza de absolvição. Ele pode ter uma surpresa ao final do processo". Corrêa admitiu ter usado o dinheiro de Valério para pagar advogados em 36 ações penais contra parlamentares do partido. Já o líder do PP, José Janene (PR), terá como relatora a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), que tem-se pautado pelo questionamento dos métodos da CPI. Ele aparece como beneficiário de R$ 4,1 milhões sacados por seu assessor João Cláudio Genu das contas de Valério. O deputado Pedro Henry (PP-MT) terá como relator Orlando Fantazzini (P-SOL-SP). O parlamentar foi apontado por Roberto Jefferson como distribuidor de mensalão a deputados. Não há registro de saques, o que pode levar o relator a julgar o processo improcedente. Wanderval Santos (PL-SP), tido como beneficiário de R$ 120 mil das contas de Valério, terá o processo relatado por Chico Alencar (P-SOL-RJ). Nelson Trad (PMDB-MT) vai analisar o processo contra Roberto Brant (PFL-MG), único oposicionista com representação no Conselho. O coordenador da campanha de Brant à Prefeitura de Belo Horizonte em 2004, Nestor de Oliveira, sacou R$ 102 mil das contas de Valério.