Título: Presidente do Citi defende acordo na CPI
Autor: Alex Ribeiro e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2005, Política, p. A8
O presidente do Citibank no Brasil, Gustavo Marin, defendeu ontem, em depoimento na CPI do Mensalão, o acordo em que fundos de pensão se comprometem a pagar ágio de 319% na compra de ações da Brasil Telecom (BrT) pertencentes ao banco. "Esse preço reflete o prêmio de controle", disse Marin. "Permite aos fundos assumir a empresa e fazer a venda em conjunto, maximizando o retorno para as famílias que contribuem para os fundos." Em março, os fundos de pensão Previ, Funcef e Petros assinaram o contrato que os obriga a comprar, a partir de novembro de 1997, a participação do Citibank na BrT por R$ 91,80 a ação. A operação vem sendo criticada porque, quando o contrato foi assinado, a ação da empresa estava sendo negociada em bolsa por R$ 21,90. Marin apresentou cálculos que corrigem, pela taxa Selic, o valor pago no leilão de privatização, realizado em 1998, pelas ações da BrT - os números apontam uma cifra de R$ 100,50 por ação, acima, portanto, dos R$ 91,80. Segundo Marin, o prêmio pelo controle se justifica quando o novo administrador considera que, a partir de mudanças na gestão da empresa, pode elevar a lucratividade da empresa. As ações negociadas em bolsa não embutem esse prêmio porque pressupõem que não haverá melhorias na gestão da empresa. No caso da BrT, disse Marin, a mudança na administração da empresa já produziu resultados, melhorando a percepção de lucratividade: as ações negociadas em bolsa passaram de R$ 21,9 para R$ 29,3 entre os dias 9 de março e 13 de outubro deste ano. O Citi apresentou ainda estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que conclui que o preço do contrato fechado com os fundos é justo. Marin argumentou que os fundos de pensão passaram a ter o direito de "tag along" - ou seja, recebem 100% do valor em uma venda conjunta da empresa. Se ficassem como minoritários, os fundos teriam direito a apenas 80%. Esse diferencial de 20% teria representado um adicional de R$ 682 milhões para os fundos, na hipótese de o Citibank ter aceito a oferta de compra feita em fevereiro pelo Banco Opportunity. O presidente do Citibank afirmou que a instituição resolveu romper com Dantas depois de realizar um minucioso levantamento da situação do fundo CVC, que respondia a mais de 100 ações judiciais. O deputado Abelardo Lupion (PFL-PR) leu uma série de notícias que envolvem o Citi com irregularidades, corrupção e lavagem de dinheiro, fraude e até envolvimento com o narcotráfico, especialmente na América Latina. Ele questionou o fato de o PT, que sempre teve posição contrária à empresa, ser agora o principal parceiro do grupo por meio dos fundos Petros, Funcef e Previ. O senador Amir Lando (PMDB-RO), presidente da CPI do Mensalão, disse que, no contrato do Citi com os fundos, será investigada a existência de alguma vantagem que o Citi teria recebido para supostamente financiar o mensalão. "Até agora não há indícios. Há indicações de que há contratos bilionários nesse contexto que pode servir de ponte para desvios", reconheceu. O relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), afirmou que Spinelli foi identificado como o "homem do Citi" nas empresas subordinadas ao banco. "Agora temos condição de descer mais profundamente na contabilidade dos fundos de pensão para estabelecermos, em primeiro lugar, contratos de publicidade e possíveis superfaturamentos, visando ao financiamento de campanhas", disse o relator.