Título: Idoso curte internet e sonha ganhar na loteria
Autor: Eliane Sobral
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2005, Empresas &, p. B4

Comportamento

Eles têm bom potencial de consumo - renda pessoal média de R$ 943 e familiar de R$ 1,3 mil por mês - são otimistas em relação ao próprio futuro e querem estar por dentro das novidades. Apesar do quadro, são ignorados pela indústria e pela comunicação. O contingente de pessoas na chamada terceira idade - ou com mais de 60 anos, na ultrapassada definição antropológica - já representa 8,7% da população brasileira. E esse número deve crescer nas próximas décadas, junto com o aumento da expectativa de vida - hoje em 68,6 anos, dois anos e meio a mais que na década de 90. Para entender os hábitos de consumo dessa população, em setembro passado o Ibope Mídia, ouviu 2,2 mil pessoas com mais de 60 anos de todos as classes sociais e de ambos os sexos. Descobriu que os serviços financeiros são pouco explorados por esta parcela da população: apenas 19% dos entrevistados possuem cartão de crédito; só 7% têm previdência privada e 9% possuem seguro de vida - embora 39% deles tenham conta corrente e 10% usem empréstimo bancário.

Por outro lado, 17% deles têm TV por assinatura em seus domicílios; 41% lêem jornal habitualmente de segunda a sábado e 29% lêem revista com regularidade, enquanto 6% usa a internet com freqüência - a faixa etária entre 60 e 64 anos concentra mais da metade desses usuários. A mídia preferida, porém, é o rádio, segundo 80% dos entrevistados (ver quadro). Com mais dinheiro no bolso e tempo disponível, a turma que já passou dos 60 adora viajar. Segundo a pesquisa, 28% dos entrevistados viajaram pelo menos uma vez nos últimos 12 meses (dentro da classe A, esse percentual sobe para 59%). Mas apenas 19% do universo pesquisado usaram os serviços de uma agência de viagem para auxiliá-los na definição de roteiro, compra de passagens e hospedagem. A pesquisa foi apresentada ontem durante a 15ª edição do MaxiMídia, evento que acontece em São Paulo. A diretora do Ibope Mídia, Dora Câmara, acredita que por falta de informação as empresas de forma geral não têm dado a devida atenção a este segmento da população - apesar do bom potencial de consumo que eles apresentam. "Pela renda que os idosos apresentam, o número dos que possuem celular ou que usam serviços bancários é bastante baixo", diz ela. Além de hábitos de consumo e poder aquisitivo, a pesquisa também sondou as perspectivas e os sonhos que povoam a cabeça dos mais velhos. Dos entrevistados, 58% acham que a própria vida estará melhor nos próximos cinco anos. Quanto à situação do país, o índice de otimismo é um pouco menor, apenas 39% acreditam que o quadro político e econômico do país vai melhorar nesse período. A maioria dos entrevistados (85%), independentemente da classe social, se diz satisfeito com a própria vida e 40% gostariam de empreender uma vida com mais novidades e mudanças. A propósito, no quesito sonhos, não há distinção entre jovens e idosos. Para quem já passou dos 60, o maior sonho é ganhar na loteria.