Título: Panaftosa faz defesa parcial do Paraguai
Autor: Marli Lima e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2005, Agronegócios, p. B12

Apesar das fortes suspeitas de que os focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul tenham tido sua origem em gado contaminado vindo do Paraguai (que faz fronteira com a área atingida), especialistas em vigilância sanitária não descartam a possibilidade de que a doença tenha surgido do trânsito de animais oriundos de regiões do Brasil sem status de livre de aftosa reconhecido pela Organização Internacional de Epizootias (OIE). Mas, em qualquer cenário, há uma certeza: houve falha na fiscalização do trânsito de animais no Mato Grosso do Sul. Segundo estudos do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), o vírus encontrado no Estado é do subtipo O (campos 1), o mesmo que atingiu o município de Campo Alegre (PA), em 2004 e o Uruguai e o município de Jóia (RS), em 2000. Há sete tipos de vírus da aftosa no mundo, mas na América do Sul, até hoje, só foram detectados os tipos O, A e C. "Os exames mostram que se trata de um vírus local, que já estava na América do Sul. Resta descobrir de onde o vírus veio", afirma Eduardo Corrêa Mello, diretor do Panaftosa. Conforme Mello, o centro realizará novos testes e estudos até a próxima semana para confirmar se houve falhas na vacinação e a origem da doença. Ele diz, porém, que a vacina usada hoje oferece 99% de proteção contra a doença. "Tenho confiança de que a vacina usada tem eficiência para esse subtipo de vírus", diz. Maristela Pituco, responsável técnica pelo Laboratório de Viroses de Bovídeos do Instituto Biológico, vinculado à Secretaria de Agricultura de São Paulo, diz que todos os animais vivos transportados entre regiões com status sanitários diferentes - do Pará para o Mato Grosso do Sul, por exemplo - devem passar por testes sorológicos e quarentena para evitar a disseminação do vírus. "Não há garantias de que não ocorra trânsito clandestino", diz Maristela. Mello, do Panaftosa, observa que as ações promovidas para conter o foco da doença têm se mostrado eficientes, tendo em vista que os novos focos identificados nesta semana estão na região de emergência delimitada pelo governo. "De modo geral, o sistema de controle sanitário no Brasil é eficiente. A possibilidade de eventos negativos sempre existe porque o controle precisa ser feito em todo o continente", diz o diretor. Segundo ele, o Comitê Hemisférico para Erradicação da Febre Aftosa (Cohefa) criou este ano um programa de erradicação da doença no continente, que conta com recursos privados de US$ 48 milhões/ano. O programa promoverá ações em países com foco e em regiões de fronteira para erradicar a doença até 2009. Para Mello, os países em condições mais precárias de controle hoje são Equador e Venezuela, considerados pela OIE não livres da doença, e Colômbia, que registrou foco em maio deste ano e faz divisa com esses países, Brasil e Peru - que registrou casos em setembro de 2004 (ver mapa). Mello diz que o programa começou com ações na Bolívia, que está há dois anos sem focos e quer obter status de livre com vacinação. Também há ações previstas na fronteira entre Paraguai, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Equador e na Venezuela. "Os esforços serão centralizados em diferentes áreas a cada ano", diz. A idéia, afirma, é complementar as ações de prevenção e controle realizada pelos países. Em 2004, segundo o Panaftosa, a América do Sul investiu US$ 439,85 milhões (recursos privados e públicos) na compra de 500 milhões de doses de vacinas e em programas de controle e prevenção. Do total, o Brasil investiu US$ 330,6 milhões, e praticamente a metade desse montante saiu dos cofres do setor privado. Segundo a entidade, não é possível evitar o aparecimento da doença, enquanto o vírus não for erradicado em todo o continente. Mello diz que o Brasil tem capacidade para eliminar o foco do Mato Grosso do Sul e retomar rapidamente o status de livre da doença com vacinação. Mas se forem identificados novos focos fora da área perifocal delimitada, há risco de outros Estados e do Paraguai perder seu status atual.