Título: Japorã resiste ao sacrifício de gado
Autor: Marli Lima e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2005, Agronegócios, p. B12
Crise sanitária Criadores querem primeiro definir o valor das indenizações pelas perdas
Produtores de Japorã (MS), onde foram confirmados na segunda-feira novos focos de febre aftosa, decidiram endurecer com a Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro) e com o Ministério da Agricultura para impedir que os prejuízos já causados pela doença aumentem na região. Em reunião do Conselho Municipal de Saúde Animal, realizada na tarde de ontem na prefeitura do município, eles decidiram que só permitirão que animais sejam sacrificados nas propriedades rurais da cidade após o estabelecimento de um acordo sobre o valor da indenização e o depósito do dinheiro na conta dos donos do gado. "Tal medida se faz necessária mediante a falta de segurança do produtor afetado por haver entre as esferas do governo estadual e federal um jogo de empurra no tocante aos recursos destinados às indenizações", explicam, em nota assinada pelo presidente do conselho, Arlindo Perin. O coordenador do Iagro em Japorã, Antônio Eder, disse que agora espera orientação de diretores da agência, em Campo Grande (MS). Os produtores prometem fazer uma manifestação com 300 pessoas hoje pela manhã nas proximidades da fazenda Santo Antonio, um dos locais onde foi encontrado o vírus. "Não somos contra o abate, mas queremos ser indenizados", disse Sebastião Souza, produtor e ex-prefeito de Japorã, que participou da reunião e, como é advogado, prestou consultoria aos colegas. "Aqui, ao contrário de Eldorado [onde foram constatados focos em duas fazendas], 90% dos atingidos são de pequenas propriedades que vivem do gado". Na nota, Perin explica que há em Japorã 66 mil cabeças de bovinos - 5,5 mil voltadas à produção de 10,5 mil litros de leite por dia, que garantem renda de R$ 150 mil por mês. A venda de 2,6 mil animais mensalmente gerava mais R$ 1,8 milhão e as três agroindústrias do município, R$ 390 mil. Sem esse dinheiro, o movimento no comércio teria caído em 50%. Ninguém confirma, mas em Japorã fala-se no sacrifício de 4 mil animais e na interdição de 800 propriedades num raio de 25 quilômetros do município e dos quatro vizinhos - Mundo Novo, Iguatemi, Itaquiraí e Eldorado, onde foram abatidos 582 animais e 280 estão sendo mortos. O início do abate em Japorã pode começar amanhã, mas a avaliação do gado não foi realizada. Na cidade de 7 mil habitantes, enquanto equipes da vigilância sanitária e Departamento de Operações de Fronteira (DOF) provocam agitação, em alguns pontos é como se nada estivesse acontecendo. Moradores da estrada de terra que dá acesso a Japorã - onde bois passeiam calmamente - não sabem informar quais as fazendas onde o gado apresentou os sintomas da doença. Na fronteira do Paraná com o Mato Grosso há situação também é curiosa. Na entrada de Guaíra (PR), diversas placas orientam os visitantes sobre a febre amarela e pedem para que eles se vacinem antes de cruzar o Rio Paraná, que divide o Estado de mesmo nome do Mato Grosso do Sul e do Paraguai. Logo depois, na barreira montada pelo Estado para impedir a entrada do vírus e produtos eventualmente contaminados, nada sobre aftosa. Ontem, o Ministério da Agricultura divulgou que há outras três fazendas suspeitas de abrigar mais animais infectados. Novos testes devem ser divulgados hoje. As fazendas com focos confirmados em Eldorado e Japorã têm 4.645 bovinos. Segundo o governo, todos devem ser sacrificados, inclusive 2 suínos, 166 ovinos e 34 caprinos. Só a fazenda Jangada, de Eldorado, tem 3.548 cabeças de gado. A propriedade registrou 65 bovinos com sintomas clínicos. Nas fazendas Santo Antônio e São Benedito, em Japorã, há 314 bovinos - 24 com diagnóstico positivo para a doença. A fazenda Guairá tem 783 bovinos (31 doentes). O ministério também informou ter inspecionado 754 propriedades na região dos quatro focos. A Secretaria de Defesa Agropecuária anunciou que Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Novo Mundo permanecem interditados por 12 barreiras fiscais. Segue proibido o trânsito de animais e subprodutos de todas as espécies suscetíveis à febre originárias dos cinco municípios.