Título: Abertura do resseguro exigirá mais qualidade
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2005, Finanças, p. C2

A proximidade do fim do monopólio do resseguro no Brasil, depois de 66 anos, começa a arejar a discussão sobre as deficiências do mercado brasileiro de seguros e resseguros. Um concorrido seminário realizado ontem em São Paulo pelo IBC, cujo tema era a abertura dos resseguros à concorrência estrangeira, revelou que, além da falta de "cultura" de proteção patrimonial com seguros, há várias deficiências na oferta de produtos e serviços. Um dos poucos eventos do mercado segurador que trouxe a visão dos clientes (grandes indústrias), o seminário apontou as falhas. "Não se sabe o que aconteceria se houvesse um grande sinistro no setor petroquímico porque há poucos técnicos em regulação", afirmou Valéria Bernasconi, executiva da área de gerenciamento de riscos da gigante Rhodia. Em um dos melhores depoimentos do evento, Valéria contou da da necessidade de adequar padrões monopolistas à política de seguros do grupo e da baixa qualidade da prestação de serviços dos corretores (ou 'brokers') nacionais ou sediados no país. "Eu devolvo 70% dos documentos que recebo por erros de cálculos, de textos e até problemas de tradução", afirmou a executiva. Detalhe: a Rhodia gasta, só no Brasil, cerca de US$ 3 milhões anualmente com seguros e resseguros e só trabalha com as "grifes" da corretagem e das seguradoras brasileiras. "No Brasil há grande dependência de 'brokers' que fazem tudo, o mercado é um pouco atrasado em comparação a outros países", analisou o gerente regional de riscos da Scania, Andres Holownia, que atribuiu o "atraso" ao longo período de monopólio. Walter Polido, diretor técnico e jurídico da sucursal brasileira da Munich Re, a maior companhia de resseguros do mundo, alertou que também os clientes terão que se acostumar a uma nova realidade quando o mercado for aberto. E exemplificou: "Os segurados terão que começar a se preocupar com a qualidade dos resseguradores, o que nunca houve porque o IRB (Brasil Re, estatal que detém o monopólio) sempre bancou tudo", afirmou.