Título: Futuro de comandante é o maior desafio
Autor: Jamil Nakad Junior e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2004, Política, p. A-8

Depois de passar o fim de semana em São Bernardo do Campo (SP), onde descansou com a família, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá posse hoje, em Brasília, ao vice-presidente José Alencar como o novo ministro da Defesa. A solenidade será no Palácio do Planalto e deverá contar com a presença de todos os ministros. Alencar assume a Defesa depois do pedido de demissão do ministro José Viegas. Sua principal tarefa será a de contornar a crise entre Defesa e o Comando do Exército. A crise foi agravada em outubro com o episódio da divulgação de uma nota do Exército considerando revanchismo a publicação de fotos, que depois constatou-se que foram erroneamente identificadas como sendo do jornalista Vladimir Herzog, morto quando estava preso por militares durante a ditadura. Alencar terá que contornar a delicada situação do comandante do Exército, general Francisco Roberto Albuquerque. Uma pesquisa elaborada na semana passada pelo Centro de Comunicação Social do Exército apontou que 85% dos militares condenaram os procedimentos da Força durante a crise, segundo a "Folha de S.Paulo". As críticas internas estão justamente concentradas no fato de o Exército ter recuado de nota na qual defendia suas ações repressivas durante a ditadura militar (1964-1985). E também no fato de Albuquerque ter culpado publicamente, na segunda nota, o setor de comunicação do Exército em vez de, como comandante, ter assumido a responsabilidade pelo teor do primeiro texto divulgado. Pivô do pedido de demissão de José Viegas do Ministério da Defesa, o comandante do Exército, general Francisco Roberto Albuquerque, convocou todos os oficiais generais da Força que atuam em Brasília a comparecer hoje à cerimônia de posse de José Alencar, prevista para a partir das 11h, no Palácio do Planalto. A idéia é criar um efeito simbólico de prestígio do Exército ao nome do vice-presidente da República. Na convocação, o general Albuquerque pediu que todos os oficiais se encontrem no início da manhã no Quartel General do Exército - o deslocamento de cerca de 40 generais ao Palácio do Planalto ocorrerá por meio de um ônibus da Força. O comandante quer evitar acúmulo de carros oficiais e de motoristas do Exército na sede do Executivo - o que poderia passar aos civis uma imagem de arrogância da Força. No sábado à noite, na sede do Clube do Exército de Brasília, o general Francisco Roberto Albuquerque teve mostras de que sua atuação à frente da Força está em xeque diante dos militares. Em meio à sua apresentação, o cantor Jair Rodrigues pediu uma salva de palmas ao comandante do Exército - o que teria ocorrido de forma tímida, de acordo com relato à "Folha de S.Paulo" de militares presentes ao evento. Ele tem o apoio de integrantes da cúpula do governo e sabe que Viegas decidiu deixar o cargo após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a nota de retratação, ter dado o caso por encerrado. Alencar torce e trabalha para que Albuquerque consiga reverter o clima negativo que tem hoje na Força, principalmente entre os oficiais da reserva. O vice teme que a eventual demissão do comandante venha a vitaminar nova crise entre os militares. A permanência de Alencar na pasta é apontada por integrantes do governo como um tapa-buraco antes da segunda reforma ministerial de Lula, prevista para 2005. No discurso de hoje, temas como reestruturação, segunda parcela do reajuste salarial aos militares, permanência das tropas brasileiras no Haiti e programa para o setor aéreo não devem ser abordados. Alencar já sinalizou a Viegas que deverá manter a maioria da equipe que atua hoje na pasta. Na terça, ambos voltam a se encontrar para tratar desse tema. (Com agências noticiosas)