Título: Plantio de batata deve crescer em 2005
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2004, Especial, p. A-12

Ainda que o cenário de médio prazo seja positivo, os preços da batata caíram nos últimos dois meses, após atingir o pico de alta em agosto, no atacado paulista. Em dois meses, a cotação baixou 22,4%, para R$ 47,38 por saca de 50 quilos. Segundo Margarete Boteon, do Cepea/Esalq, as chuvas de abril e maio atrasaram em um mês o plantio na região de Vargem Grande do Sul (SP), que responde por 10 mil hectares. Resultado: 70% do volume colhido chegou ao mercado a partir de setembro, junto com a safra do sudoeste paulista e do sul de Minas. No cíclico mercado da batata, as quedas de preço de agosto de 2003 a março passado levaram os agricultores a reduzir o plantio. Segundo o IBGE, a área recuou 4,2% neste ano, para 147,56 mil hectares, e a produção deve recuar 6,9%, para 3,047 milhões de toneladas. No Sudeste, que produz 63% da oferta nacional, o tombo foi de 10,5%, para 1,9 milhão de toneladas. Com isso, a oferta escasseou e os preços subiram a partir de setembro, segundo o Cepea. Em agosto, a saca de 50 quilos saiu por R$ 60,70 no atacado paulista, alta de 115,7% sobre a igual mês de 2003. Se os preços desestimularam o plantio no início do ano, a alta a partir de abril serviu de incentivo para a próxima safra. Natalino Shimoyama, presidente da Associação Brasileira da Batata (Abba), diz que o total de produtores pode variar de 3 mil a 5 mil, e o gasto por hectare será de R$ 10 mil a R$ 18 mil, dependendo da mecanização. Com custo médio de R$ 12 mil por hectare, Capão Bonito (SP) é uma das regiões que apostam em tecnologia, segundo a CACB, cooperativa agrícola local. Ali, onde o forte é o plantio de feijão, 12 produtores plantam 1,5 mil hectares de batata por ano. Emílio Kenji Okamura, presidente da CACB, diz que a região é uma das poucas a adotar a clonagem de mudas, que garante produção padronizada, mais resistência a doenças e produtividade média de 35 toneladas por hectare, ante média nacional de 20. Há seis anos a cooperativa usa mudas clonadas, produzidas em laboratório e cultivadas em estufa. Mas isso não garante preços diferenciados. A colheita, iniciada em outubro, coincide com as safras de Minas e Vargem Grande do Sul (SP) e o preço cai com a oferta. Okamura afirma que 2004 não foi favorável aos produtores locais, que enfrentaram clima adverso no início do ano. "Não conseguimos pegar as boas cotações de julho e agosto. A maioria dos produtores fecha o ano com pouca rentabilidade". Waldemar Pires de Camargo, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura de São Paulo, reitera que as oscilações devem-se à natureza do setor, pulverizado e sem suporte oficial. No Brasil, a batata é produzida em três safras. A primeira, de novembro a março, é produzida por São Paulo, Minas e Paraná e responde por 46,9% da oferta anual. A segunda (abril a julho) é plantada em São Paulo, Minas, região Sul, Goiás e Bahia, e equivale a 30,9% da oferta. A safra de inverno (agosto a outubro) sai de São Paulo e Minas e equivale a 22,2%. Em geral, as regiões mecanizadas colhem no primeiro semestre, como é o caso do sudoeste paulista, que planta 8 mil hectares por ano. Antônio Carlos Rodrigues, sócio da RF Agrocomercial e dono de 484 hectares de batata em Itapetininga, no sudoeste, assiste às oscilações de preços há 30 anos e se protege com venda direta e diversificação. Ele planta batata, feijão, milho, trigo, soja e cria gado nelore em cinco fazendas. A produção de batata de Rodrigues, de até 150 mil toneladas por ano, é vendida para Carrefour, Pão de Açúcar e pequenas redes varejistas em São Paulo. (CB)