Título: Tomateiros compensam perdas dos últimos anos
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2004, Especial, p. A-12

O produtor Gerson Stein, que administra os negócios da família em Sumaré (SP) desde 1999, soube tirar vantagem dos preços altos do tomate, que em agosto chegou a custar 185% mais que no mesmo mês de 2003, segundo o Cepea/Esalq. "Consegui recuperar os prejuízos dos últimos três anos e ainda sobrou para investir no plantio de 2005". Filho de tomateiro, Stein costuma plantar 7,3 hectares, mas pretende aumentar a área para 9,7 hectares. Graças aos ganhos deste ano, ele também pagou um financiamento bancário tomado em 2003 e está investindo R$ 7 mil para aumentar a área irrigada de 3,6 para 4,8 hectares. Mas não é sempre assim. Em 2003, ele jogou fora cerca de 100 toneladas - 30% de sua produção - devido aos baixos preços causados pelo excesso de oferta, e sua história é semelhante à de muitos que vivem em Sumaré. O município, que produz tomates há 45 anos e é reconhecido pela produção tecnificada, reúne 30 produtores, que colhem 1,5 milhão de caixas de 23 quilos de tomate de mesa por ano. Do total, 90% vai para Argentina, Sul do país e Rio de Janeiro. Em 2004, Sumaré reduziu a área plantada em 25%, para 800 hectares. Marcos Ravagnani, presidente da Associação dos Agricultores e Pecuaristas de Sumaré e sócio da Casa dos Tomateiros, afirma que a queda refletiu os baixos preços de 2003 e a consequente descapitalização dos produtores. Em 2001, a região já havia perdido 60% da produção com a incidência da mosca branca (que transmite o geminivirus), e em 2002 houve crise de superoferta. Neste ano, entretanto, a menor produção foi compensada pela alta dos preços. "Quem colheu em junho e julho teve ótimos ganhos", afirma Ravagnani. Ele lembra que os preços bateram em R$ 40 por caixa, quando o custo de produção é de R$ 12. Segundo o Cepea/Esalq, o custo de produção por hectare varia de R$ 25 mil a R$ 50 mil, dependendo da mecanização. A região de Sumaré tem o calendário a seu favor. O pico de colheita é de abril a maio, quando os preços começam a subir com a chegada do frio. Joel Elias, que trabalha com o pai, Pedro Elias Sobrinho, há 42 anos, vendeu parte da produção nessa época e diz ter recuperado perdas dos três últimos anos. Para 2005, ele quer reduzir a produção em 30%, para 150 mil pés. "A concorrência será maior por causa dos bons preços até julho". Ravagnani também prevê superoferta no fim do ano, devido à entrada de produtores sem tradição. Ele cita Caconde (SP), que plantou pela primeira vez 1 milhão de pés e deve colocar até 300 mil caixas no mercado no verão. Além da concorrência de "aventureiros", os produtores de tomate do tipo mesa sofrem com a entrada irregular no varejo do tomate tipo indústria, cujo plantio é subsidiado pelas empresas, que exigem exclusividade na entrega. De formato semelhante ao italiano e com resistência de 40 dias, ante dez do italiano, o indústria chega ao mercado de forma clandestina quando o preço está elevado. O custo de produção do indústria é de cerca de R$ 5 por caixa, enquanto o do italiano chega a R$ 20. Segundo o Instituto de Economia Agrícola, 35% da produção nacional é do tipo indústria, cultivado em Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco. O tipo mesa é produzido em São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Ceará. De novembro a março, o mercado é abastecido por Santa Catarina, São Paulo e Espírito Santo. Nos outros meses, por São Paulo, Minas, Goiás e Rio. O IBGE estima para 2004 uma produção brasileira de tomate da ordem de 3,36 milhões de toneladas, 8,9% menos que no ano passado. (CB)