Título: Cebola se recupera da concorrência argentina
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2004, Especial, p. A-12

A produção brasileira de cebolas passou por uma drástica mudança desde o início do Plano Real. A paridade com o dólar, uma das bases do plano, tornou a cebola argentina mais competitiva e estimulou uma explosão de importações. Segundo a FAO (braço da ONU para agricultura e alimentação), entre 1994 e 1998 a produção brasileira encolheu 17,8%, para 838,2 mil toneladas anuais, e a argentina cresceu 75,9%, para 797,8 mil. No período, as compras do Brasil de cebola do vizinho cresceram 85%, para 254,6 mil toneladas em 1998. "O setor só se recuperou em 1999, após a desvalorização do Real", diz Margarete Boteon, pesquisadora do Cepea/Esalq. De acordo com ela, o Brasil ainda importa da Argentina de abril a junho, quando a oferta interna é escassa por conta do inverno. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a agosto, foram 182 mil toneladas, ante 172 mil em todo o ano de 2003. Margarete observa que, a partir de 2000, a produção voltou a crescer, e regiões tradicionais como Ituporanga (SC), Petrolina (PE) e Piedade (SP) começaram a disputar espaço com novos pólos, como Vale do São Francisco e Irecê (BA), Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MG) - estes adeptos da produção mecanizada. De janeiro a abril, o mercado brasileiro é abastecido pelo Sul, que responde por 58% da produção nacional, segundo Waldemar Pires de Camargo, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura de São Paulo. De maio a julho, entram a importação argentina e as safras de Minas e São Paulo. Em junho, é a vez do Nordeste. "O problema deste ano é que as chuvas no Vale do São Francisco em março e abril fizeram a região perder a safra de mudas e impossibilitaram o plantio nas várzeas", observa Camargo. Com a menor oferta, os preços subiram 23,5% em agosto, para R$ 40,92 por saca de 20 quilos, segundo o Cepea. A entrada das safras paulista e nordestina a partir de setembro pressionou os preços. Nos últimos dois meses, o preço médio caiu 51,2%, para R$ 19,97 por saca. Até agosto, muitos produtores do pólo tecnificado de São José do Rio Pardo (SP) adiantaram a colheita para aproveitar a alta. "Cheguei a vender a R$ 100 a saca de 45 quilos", diz Airton Feltran, maior produtor da região. O custo médio de produção é de R$ 15 por saca de 45 quilos. Sócio da Transcomércio Feltran Exportação e Importação, ele produz há 35 anos e, neste ano, aumentou a área de 230 para 300 hectares. As chuvas de maio destruíram parte das mudas e a produção caiu de 100 mil para 80 mil toneladas. Paulo Vedovato, produtor em São José do Rio Pardo e filiado à Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), afirma que a área plantada na região recuou 20% na primeira safra, devido às chuvas e à falta de capital de alguns produtores. Segundo ele, o custo de produção cresceu 50%, para R$ 12 mil por hectare. Vedovato planta 10 hectares por ano, mas em 2004 a produção caiu 47%, para 245 toneladas, depois das chuvas que destruíram parte das mudas. A queda foi compensada pelos preços, em média 100% superiores aos de 2003. José Maria Breda, agrônomo da Cooxupé, diz que a idéia dos produtores era reduzir a área em 20% neste ano, mas os preços favoráveis desde abril sustentaram 2 mil hectares. A cooperativa reúne a maior área de cebola de São José do Rio Pardo, cultivada por 80 cooperados. A produção de 80 mil toneladas é vendida em todo o país e 1,8 mil para a Argentina que, segundo Breda, exportou muito e está sem estoques. (CB)