Título: G-20 reage a pressões para acelerar acordo em bens industriais e serviços
Autor: Assis Moreira e Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2005, Brasil, p. A2

O Brasil endureceu o tom na reunião extraordinária de ministros que começou ontem em Genebra, ao mesmo tempo em que o G-20 fez novas propostas. Participam EUA, União Européia, Austrália e Índia, além do Brasil, que voltou a advertir que não haverá avanços na Rodada Doha enquanto não houver sinal claro do que será obtido na negociação agrícola. A reunião ministerial - que continua hoje - é uma nova tentativa dos cinco principais membros da negociação agrícola para chegar a barganhas que conduzam a um acordo na conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC) em dezembro, em Hong Kong. No encontro, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reagiu às crescentes pressões da parte de Bruxelas e Washington para os países emergentes acelerem as concessões em produtos industriais e serviços, em vez de esperar resultados na agricultura. O comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, desembarcou dizendo que sua tarefa na reunião de Genebra é tranqüilizar os países de que União Européia continua "totalmente comprometida" com a negociação e também "advertir os demais países sobre as conseqüências de tratar Doha apenas como negociação agrícola". Em comunicado, afirmou que "a Europa precisa ver mais claramente os benefícios que a Rodada Doha pode oferecer no comércio de bens industriais e serviços". Amorim convocou, então, uma entrevista na missão do Brasil para sinalizar que esta "não é a abordagem correta" e que os parceiros "relutantes" devem se concentrar em agricultura, para então abrir caminho a concessões nas outras áreas da Rodada Doha. "Há muitos rumores, cortina de fumaça, mas esta é uma rodada de desenvolvimento", insistiu Amorim. Para ilustrar o engajamento do G-20 - grupo liderado pelo Brasil na negociação agrícola - o ministro apresentou a jornalistas uma série de novas propostas, sobre seleção e tratamento de produtos sensíveis, limites para subsídios a produtos específicos, proibição à exportação e melhor monitoramento na implementação do futuro acordo agrícola. A questão dos sensíveis está no centro da negociação. A União Européia quer proteger até 5% de suas linhas tarifárias com corte menor de tarifa. O G-20 ontem defendeu limite de 1%, idêntico a sugestão dos EUA. Além disso, o G-20 defende que o percentual de redução nos sensíveis não pode ultrapassar 30% do corte dos demais produtos. Para compensar a designação de sensíveis, o G-20 pede que a expansão das cotas represente. no mínimo, 6% do consumo interno do país que impõe a restrição quantitativa. Fortalecido pelo sinal verde dos países da UE para continuar sua estratégia negociadora, que irrita a França, Mandelson indicou em Genebra que a UE pode ceder a pressões dos EUA e do Brasil e fazer novas concessões para abrir seu mercado. Mas ninguém ignora os limites do mandato europeu e a realidade politica, com eleições futuras na Franca, por exemplo. Em Washington, o representante comercial dos EUA, Robert Portman, elogiou a proposta feita pelo G-20 e Austrália e pediu mais colaboração da União Européia para que haja progresso na área agrícola. "A agricultura é a chave para eliminar o impasse e avançar na negociação. O G-20 e a Austrália deram passo adiante na área de acesso a mercado. Os EUA aplaudem a contribuição do G-20 e da Austrália no sentido de limitar o número de produtos sensíveis que possam ser tratados separadamente. O G-20 sugeriu que o percentual não deve ultrapassar 1%, e os EUA aplaudem e apóiam a proposta", disse Portman em comunicado à imprensa. Para ele, Doha só atingirá seus objetivos se os países aumentarem a abertura de mercado, evitando grande número de exceções para a fórmula de corte de tarifas. "Esperamos ver ambição muito maior da UE agora, seguindo as ofertas da Austrália e do G-20 em produtos sensíveis", afirma Portman.