Título: Petróleo em alta explica apetite das grandes empresas
Autor: Chico Santos e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2005, Brasil, p. A3

A atuação agressiva de grandes empresas de petróleo, como Shell, Repsol e BG, e o retorno da italiana Eni, que depois de cinco anos de ausência voltou a comprar um bloco na 7ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), deixaram claro o apetite dessas companhias pelo país, indicando também que elas apostam na manutenção do preço do petróleo em patamares elevados durante um bom tempo. Essa interpretação - que ajuda a explicar o sucesso do leilão - é compartilhada por executivos da indústria e analistas do mercado. "Atribuo esse resultado ao preço do petróleo, em primeiro lugar, à escassez de gás e à volta de algumas teses malthusianas de que o petróleo do mundo vai acabar, o que leva as empresas a procurar óleo em países com muitas áreas inexploradas, como o Brasil", diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), que admitiu ter se surpreendido com o resultado. José Renato Ponte, diretor de assuntos corporativos da BG, diz que o preço do petróleo está muito atrativo e deve se acomodar em patamares elevados nos próximos anos, isso sem contar o fato de as grandes companhias precisarem renovar reservas constantemente. A BG vai pagar R$ 158 milhões em bônus pelos dez blocos arrematados, todos em parceria com a Petrobras ou com a Repsol. Com a Petrobras, a BG vai explorar águas profundas na Bacia de Santos e na parte terrestre da Bacia do São Francisco, enquanto com a Repsol o foco são as águas rasas também da Bacia de Santos. Para Caio Carvalhal, da Cambridge Energy Research Associates (Cera), outro ponto importante a ser destacado nessa rodada da ANP é a estabilidade das regras do Brasil em relação a outros produtores da região, notadamente Bolívia, Venezuela e Peru. "A meu ver, um dos pontos positivos que justifica o sucesso desse leilão é a estabilidade do Brasil em termos de exploração de petróleo, comparado a seus pares na região. O país está realizando a sétima rodada anual consecutiva de licitações e, salvo mudanças pontuais no conteúdo local mínimo, está mantendo regras estáveis", disse Carvalhal. O analista da Cera conta que sua impressão, em conversas com companhias independentes americanas antes do leilão é que elas tinham dúvidas quanto à vocação dos blocos oferecidos para a exploração de gás natural. "Em termos de atratividade, o que pudemos notar é que existiam dúvidas se a rodada seria boa ou muito boa. Ruim não seria", disse o analista. "Para as empresas, tanto faz encontrar um ou outro insumo, o importante é que elas esperam ganhar dinheiro aqui e não perder o investimento", avalia Carvalhal. Outro fato que pode explicar as ofertas feitas pelas empresas "majors" (aquelas que atuam na exploração, produção, transporte e refino de petróleo) é que que elas precisam constantemente aumentar reservas e garantir um portfólio de produção diversificado ao redor do mundo. Sem isso, seu valor nas bolsas de valores tende a cair, já que um dos indicadores de robustez de uma empresa de petróleo é a análise do tamanho de suas reservas de petróleo, mesmo mantendo seus níveis de produção. No caso da BG, a participação acionária da companhia na Comgás, distribuidora de gás de São Paulo, em associação com a Shell, é um elemento a mais para explicar o interesse no leilão. "Faz parte da estratégia da BG garantir o suprimento de gás para o mercado brasileiro. No que diz respeito ao gás, o Brasil está vivendo hoje uma situação de potencial crise de energia. Há mais espaço para o gás na matriz energética, tanto na indústria como na geração térmica", afirmou Ponte. (CS)