Título: País cresce de forma sustentável sem erros dos anos 70, avalia Planejamento
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2005, Brasil, p. A4

O Ministério do Planejamento avalia que o Brasil já vive um ciclo sustentável de crescimento, capaz de durar muito tempo, se não houver guinada na política econômica. Para o chefe da assessoria econômica do ministério, Arno Meyer, o fato de esse ciclo estar ocorrendo com inflação sob controle, sem desequilibrar as contas externas e em meio a um ajuste fiscal é a melhor evidência da sustentabilidade da atual fase de expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2005, Meyer trabalha com a projeção de crescimento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para o PIB, de 3,5%. O desempenho será inferior ao do ano passado, quando o país cresceu 4,94%. A desaceleração não significa, diz Meyer, que a retomada iniciada em 2004 - após uma quase estagnação em 2003 - seja apenas uma "bolha de crescimento". Na avaliação do economista, um aumento de 3,5% no PIB não pode ser considerado pífio. Ao contrário. "É uma boa taxa, diante das circunstâncias." Diferente do que ocorreu na década de 70, explica, o atual ciclo não está sendo bancado por endividamento externo. Desde o fim de 2003, quando estava em US$ 214,9 bilhões, a dívida externa brasileira caiu e chegou, em junho de 2005, a US$ 191 bilhões. "Não vamos embarcar num crescimento populista. O governo está sendo extremamente responsável. Crescer à base de endividamento externo seria fácil", diz ele, rebatendo aqueles que usam as taxas de crescimento dos anos 70 para criticar o governo Lula. Também não é justo, afirma, usar como parâmetro de comparação a evolução recente de países que, diferentemente do Brasil, voltaram a crescer depois de profunda recessão. Meyer não cita exemplos. Mas a crítica serve aos que comparam as atuais taxas de crescimento do Brasil e da Argentina. Para Meyer, o fato de o endividamento externo não estar crescendo é um indicador relevante de sustentabilidade, porque não decorre da falta de oferta de crédito e sim de opção do governo e das empresas. "A liquidez internacional hoje é muito parecida com a dos anos 70", afirma, vendo muita disponibilidade de crédito externo. O comportamento da dívida externa reflete, em grande medida, o desempenho das transações correntes entre o Brasil e o resto do mundo - que são aquelas referentes a comércio, serviços, transferências de renda (pagamento de juros, remessa de lucros e dividendos) e transferências unilaterais. O superávit favorável no conjunto dessas transações, projetado pelo governo em US$ 9,4 bilhões para 2005, tem permitido ao Brasil crescer sem tomar mais crédito que o necessário para pagar os vencimentos do principal da dívida. O Ministério do Planejamento espera para 2006 um aumento da taxa de expansão do PIB. Na hipótese menos otimista, que é a do Ipea, o crescimento será de 4% no ano. Na elaboração da proposta orçamentária, porém, o ministério trabalhou com previsão de 4,5%. A convicção de que o Brasil continuará a crescer mantendo bons indicadores externos baseia-se na premissa de que as exportações continuarão fortes, gerando saldo comercial expressivo, mesmo com alta de importações. Meyer acredita que o nível da taxa de câmbio não vai atrapalhar o crescimento das exportações em 2006. Uma das razões para a aposta é a "mudança estrutural" no comércio exterior. O mercado externo "agora é parte crescente da estratégia das empresas brasileiras. Deixou de ser um mercado residual", diz ele. Meyer defende que, sob o ponto de vista macroeconômico, o que sustenta o crescimento do PIB é a melhora significativa dos fundamentos da economia brasileira. Na sua opinião, a confiança gerada pela melhora dos indicadores externos, fiscais e de inflação está propiciando os aumentos detectados pelo IBGE na taxa de investimento da economia. Entre os indicadores fiscais que ajudam a gerar confiança, ele destaca a redução da dívida líquida do setor público como proporção do PIB, cujo saldo caiu de 57,2% para 51,7% do produto, quando comparadas as posições do fim de 2003 e do último dia de agosto de 2005. Meyer acrescenta que o endividamento público vem se mantendo sob controle graças à firmeza do governo em cumprir as metas de resultado fiscal primário (conceito que exclui despesas com juros). Em 2005, o superávit primário do setor público consolidado deverá ultrapassar a meta-piso de 4,25% do PIB. Já para 2006, o Ministério do Planejamento acredita num resultado mais próximo da meta, que será a mesma deste ano. A expectativa de aproximação entre o superávit fiscal e a respectiva meta é um dos fatores que leva Meyer a esperar taxa de crescimento do PIB maior em 2006. No que se refere à inflação, o Ministério do Planejamento também trabalha com a hipótese de convergência para as metas, de 5,1% para 2005 e de 4,5% para 2006, tomado como referência o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O economista diz que, assim, abre-se espaço para queda gradual dos juros. Tanto que, ao elaborar a proposta de Orçamento para 2006, o ministério adotou como premissa que a Selic, hoje em 19,5% ao ano, estará em 18% ao ano no fim de 2005 e cairá ainda mais, para 15,5% ao ano, até fim de 2006.