Título: No mundo, há pelo menos um novo caso diariamente
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2005, Agronegócios, p. B12

Pelo menos um caso de febre aftosa é registrado por dia no mundo. Mas isso não significa necessariamente um problema, segundo Alejandro Thiermann, presidente da Comissão de Regulamentação de Saúde Animal Terrestre da Organização Internacional de Epizotias (OIE). Em entrevista ao Valor por telefone, Thiermann explicou que os países da África são os que mais registram casos da doença, e que eles não fazem campanhas para erradicá-la . "Eles definiram viver com a doença e não têm benefício do comércio internacional, como Brasil, Uruguai e Paraguai, por exemplo". Na contramão, os países da America do Norte são os que menos registram focos do vírus. Nos Estados Unidos, o último foi em 1920. Segundo ele, EUA, Canadá e México, têm o status internacional de países livre de aftosa sem vacinação - ainda que os americanos enfrentem até hoje restrições por conta do surgimento da doença da "vaca louca" no país, no fim de 2004 "A aftosa esta em toda parte do mundo. As regiões mais endêmicas sao de países que não têm interesse em comercializar no mercado internacional. Isso é uma vantagem para países que não têm febre aftosa. E é por isso que o Brasil decidiu investir em eliminar a doença", explicou Thiermann. O especialista disse que o Brasil tem seguido as regras de regulamentação da OIE desde a descoberta do primeiro foco de aftosa em Eldorado, no Mato Grosso do Sul. "Estou convencido de que o Brasil esta aplicando essas regras, incluindo serviço de vigilância e realização de exames para detectar a origem do foco". Segundo ele, a a retomada brasileira no comércio internacional de carnes é apenas uma questão de tempo. "Não é surpreendente que, com a descoberta de um foco de aftosa, os países importadores suspendam as compras em todo o pais. Esses países têm que ter informações mais confiáveis de que o país infectado esteja fazendo o controle. Cabe ao Brasil demonstrar que a situação está sob controle, que os animais estão sendo sacrificados e que a vigilância está rígida. A reversão dos embargos tem de ser discutida com cada país importador", observou. Thiermann crê que o Brasil deve demorar pelo menos 12 meses para que seja reconhecido como livre de aftosa com vacinação, desde que esteja cumprindo com vigor o controle da doença. Teoricamente, todos os outros Estados brasileiros, exceto o Mato Grosso do Sul, seguem livre de febre aftosa. "Também teoricamente, o governo do Brasil pode decidir criar zonas menores dentro do Estado do Mato Grosso do Sul ao invés de colocar o Estado todo como livre de aftosa", afirmou.