Título: Indústrias de implementos demitem 11 mil
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2004, Agronegócios, p. B-10

A queda da demanda interna por máquinas e implementos agrícolas e a demora na liberação de recursos do Moderfrota entre julho e setembro trouxeram efeitos negativos fora do campo. As indústrias de implementos, que produzem quase exclusivamente para o mercado doméstico, demitiram 11 mil funcionários desde julho devido ao recuo nas vendas. Já as indústrias de tratores e colheitadeiras, que exportam 45% da produção, dizem não ter intenção de demitir, mas estudam cortes de custos. "O setor de implementos perdeu o período de pico nas vendas com o bloqueio dos recursos do Moderfrota, e os produtores iniciaram o plantio sem renovar o maquinário", disse Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Segundo a entidade, a redução do número de postos de trabalho na área chega a 24%, de 45 mil no fim do primeiro semestre para 34 mil. Entre as empresas estariam a gaúcha Semeato, as paulistas Jumil e Jacto, a John Deere e a CNH. Das empresas localizadas pelo Valor, a fabricante de pulverizadores Jacto, sediada em Pompéia (SP), está reduzindo o quadro de pessoal em 15%, para 1,7 mil pessoas. A Jumil, com sede em Batatais (SP), vai dar férias coletivas aos 730 funcionários e não descarta futuros cortes. Segundo Rubens de Morais, presidente da Jumil, as vendas caíram 10% até outubro. Já a receita deve se manter em US$ 63 milhões no ano. A John Deere negou que haja cortes na área de implementos. Marcelo Lopes, gerente da divisão de vendas para o Centro-Oeste, disse que as vendas de plantadeiras baixaram 10% até outubro e a receita se manteve estável ante igual período de 2003. O segmento responde por 25% do faturamento da John Deere no Brasil. Celso Luis Rodrigues Vegro, engenheiro agrônomo do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura de São Paulo, observou que a alta nos preços das máquinas também desestimulou as vendas. De setembro de 2003 ao mesmo mês deste ano, o agricultor precisou vender mais produtos para comprar o mesmo trator. A relação de troca cresceu 32,7% para a laranja, 12,1% para cana, 6,1% para algodão e 4% para soja. No setor de tratores e colheitadeiras, a perspectiva é manter os postos de trabalho, graças ao aumento das exportações. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de janeiro a outubro, os embarques cresceram 49,4% no ano, para 25.721 unidades. A demanda aquecida no exterior garantiu aumento de 15,1% na produção nos dez primeiros meses do ano, que atingiu 50.051 unidades. Já as vendas internas tiveram variação de 0,7% no período, para 33.725 unidades. O segmento de tratores recuou 2%, para 25.848 unidades. Cláudio Costa, vice-presidente da Anfavea, disse que esse volume não deve ultrapassar 29 mil unidades no ano, o que significará redução de 1,6% sobre 2003. A maior queda é registrada pela CNH, do grupo Fiat, que reduziu as vendas internas em 11,3%, para 6.072 tratores, perdendo a liderança para a Valtra, cujas vendas cresceram 1,1% no ano, para 6.355 unidades. As vendas de colheitadeiras tiveram alta de 13,3%, para 5.078 unidades, impulsionadas principalmente pelo segmento de cana-de-açúcar, que elevou a aposta na colheita mecanizada. A CNH segue na liderança, com entrega de 2.192 unidades (alta de 1,6%), seguida pela John Deere, que elevou as vendas em 31,6% para 1.790 unidades.