Título: Ministro do Trabalho assume posto-chave na reeleição de Lula
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2005, Política, p. A6

A denúncia do executivo alemão atinge o ministro Luiz Marinho (Trabalho) em seu melhor momento no governo. Aos 46 anos, esse paulista de Cosmorama, casado, pai de dois filhos, cujo único registro na carteira de trabalho é o emprego como metalúrgico na Volkswagen, é hoje um interlocutor privilegiado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um dos arquitetos da estratégia de levar o presidente a buscar o apoio de sua "base social" no pior momento da crise política. Quando Lula fala o preço do arroz tipo 1, pode ter certeza: foi Marinho quem soprou. Marinho deve ser peça-chave da campanha à reeleição do presidente, caso sobreviva às indiscrições do executivo Klaus-Joachim Gebauer. Não por acaso, na mesma quinta-feira em que circularam as declarações de Gebauer, o ministro dizia-se "indignado" e anunciava que iria acioná-lo na Justiça. Ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), parece definitivamente ter tomado gosto pela política e está na linha de frente da reeleição. "É evidente que o presidente Lula tem de ser candidato à reeleição", defende, com veemência, em entrevista ao Valor, concedida na terça-feira, antes de publicadas as denúncias. "E ele será candidato com toda a condição de ser reeleito e melhorar a condição do nosso governo no segundo mandato". De acordo com Marinho, mesmo com todos os problemas na área política, Lula tem demonstrado, como indicam as pesquisas de opinião, que será um candidato competitivo em 2006, quando - aposta - o país irá crescer pelo menos 5%, "de forma consistente, sem malabarismos como fizeram outros governos". Na arena política, Marinho tem especial predileção em fazer comparações entre o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o do presidente Lula. "Gosto dessa comparação. É o meu divertimento", diz. Foi assim que ele compilou os números de criação de empregos com carteira assinada nos dois mandatos de FHC e nestes três anos de Lula. Descobriu que o saldo dos oito anos de FHC foi de 796.967. O de Lula, até agora, está em 3.577.403. Nesse ritmo, Marinho acredita que, ao fim dos quatro anos, Lula terá criado 5 milhões de novos empregos. Diante da reação dos tucanos, que rejeitaram a informação de que o governo FHC tivera a média mensal de 8.302 empregos, para 108.406 no governo Lula, o ministro pediu uma investigação nos números do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Bingo! Nos oito anos do PSDB a arrecadação líquida do fundo foi de R$ 6,5 bilhões. No de Lula, até agosto passado, está em R$ 14,6 bilhões. Em três anos do governo do PSDB, a arrecadação líquida foi negativa: 1997, 1998 e 1999. "É a prova cabal, definitiva. A média do emprego criado no governo FHC foi muito baixa. O primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso foi só prejuízo, essa é a pura realidade. Eu não gostaria que fosse isso, mas é", diz. Num encontro recente com sindicalistas, ao qual estava presente Marisa, mulher de Lula, a conversa enveredou pelo preço do arroz em janeiro de 2003 e o de agora. Marisa lembrava-se de que comprara arroz do tipo um da marca Tio João por R$ 10,50. Outros sindicalistas falaram de valores de até R$ 12. "Hoje é vendido entre R$ 5 e R$ 6. O feijão é a mesma coisa. A carne é a mesma coisa. Conseqüência da desoneração da cesta básica e do aumento real de salário". Entusiasmado com a perspectiva, foi atrás de mais um argumento popular para Lula e descobriu que, atualmente, o salário mínimo compra 1,98 cestas básicas (média das 16 capitais pesquisadas pelo Dieese). No melhor período de FHC, em 2002, comprava 1,61. Reconhece que, em abril de 2001, Fernando Henrique concedeu um aumento real para o salário mínimo, de 11,27%, que Lula ainda não conseguiu bater: o maior foi o deste ano, com 7,87%. Em compensação, argumenta, o mínimo atual teria um valor maior pela combinação do controle da inflação com a desoneração da cesta básica. Os tucanos, em geral, não gostam de comparações como as feitas por Marinho. Alegam que em janeiro de 2003 os números da economia efetivamente eram ruins por causa do "efeito Lula" da eleição. "Na posse de Lula, a projeção da inflação era de 36%, o desemprego estava em alta, havia déficit da balança comercial, os tucanos haviam queimado R$ 105 bilhões do patrimônio público e a relação dívida/PIB era alta. Eles só entregaram foi bagunça. Aquela aura de competência técnica, era tudo falso", diz. Para Marinho, o "efeito Lula" é uma invenção do PSDB: "O ambiente foi afetado pela inconsistência, efeito das bobagens que o Serra (José, atual prefeito de São Paulo que disputou a eleição com Lula) dizia nos debates. Aquela coisa de, se Lula vencer, vai ser a argentinização do Brasil. Eles é que fizeram terrorismo com o mercado, com os investidores". Os números de setembro apontam para a criação de um número de empregos menor em 2005 em relação a 2004. O emprego formal "cresceu a uma velocidade menor, mas em cima de uma base maior", explica. A culpa? "Os juros altos". Agora, "estamos entrando num ciclo de redução dos juros parecido com o do ano passado". Marinho diz que Lula nunca assumiu o compromisso de criar 10 milhões de novos empregos. Dizia, na campanha, que este era o número necessário. Mas, destaca que os 5 milhões a serem criados no primeiro mandato "são empregos formais, celetistas. Não entram o Estado, o informal, o da agricultura familiar. Podemos chegar a 5 milhões nos quatro anos. Para um saldo de 796 mil em oito anos de FHC, nós já estamos com 3.577.403. Podemos chegar a 5 milhões em quatro anos. Esta é a maior goleada que nós vamos dar no governo de Fernando Henrique". Os próximos passos de Marinho: a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e uma política permanente para o salário mínimo. Luiz Marinho, aliás, é um dos raros ministro a dobrar uma decisão de seu colega da Fazenda, Antonio Palocci. Ano passado, a Fazenda e a Receita eram contrários à correção da tabela. Alegavam que a arrecadação cairia. "A tabela foi corrigida e a arrecadação aumentou", diz. Na época, para uma defasagem estimada em 17%, Lula assumiu o compromisso de dar 10% em 2005 e 3,5% mais a inflação em 2006 e 2007. É sobre essa base que começa a negociação com a Fazenda, nos primeiros 15 dias de dezembro. Em relação ao salário mínimo, a idéia é estabelecer como política permanente o reajuste com a inflação do período mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB). Ele acredita que possa até ficar acima dos R% 321 previstos, assim como os R$ 284 de 2005 viraram R$ 300. "Não temos que ter vergonha de ser governo. Somos governo e um governo bom", diz Marinho.