Título: Direção do PT toma posse dividida sobre alianças
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2005, Política, p. A6

A definição da política de alianças para 2006 será a principal encruzilhada da nova direção do PT. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus assessores mais próximos já pregam a necessidade de garantir o apoio dos aliados históricos, aproximar-se formalmente do PMDB e afastar-se gradualmente da direita, sobretudo do PP. E não há consenso entre as diferentes correntes do PT sobre a questão. A nova cúpula petista assumiu neste fim de semana, depois do último ato da antiga direção: a expulsão do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares. As divergências entre petistas são ainda maiores quando se fala em PL e PTB. O novo secretário-geral do partido, Raul Pont, é completamente contra alianças. O novo presidente da sigla, Ricardo Berzoini, é um pragmático. Outra figura chave no PT, o secretário de Relações Internacionais Valter Pomar, fica em uma posição intermediária. "Uma parte do partido tem uma visão muito crítica dessa aliança com o PP, PTB e PL, mas se anteciparmos esse debate amplificamos a crise no Congresso. Pára tudo. Temos que deixar isso para o início de 2006", analisa um político da legenda, ligado à cúpula. A decisão do PT sairá do encontro nacional do partido em dezembro de 2005, em Belo Horizonte, em que participam delegados eleitos pelos filiados. É avaliação quase generalizada na legenda que foi um equívoco Lula desprezar a coalizão com o PMDB logo no primeiro ano de mandato, quando poderia ter oferecido ao partido quatro ministérios. A presença dos pemedebistas numa coalizão para reeleger Lula é considerada fundamental no PT e até mesmo entre as legendas de esquerda, mas o apoio formal do PMDB permanece uma incógnita. A cúpula petista assistiu com certa apreensão ao anúncio do ex-governador Anthony Garotinho de que disputará as prévias no PMDB. O presidente nacional da sigla, Michel Temer, estava ao seu lado. A conversa com o PMDB ficou ainda mais difícil depois da eleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à presidência da Câmara, derrotando Temer. O que facilitaria o diálogo com o PMDB é a queda da verticalização, a regra que obriga as legendas a repetirem nos Estados e municípios a aliança nacional. Sem a verticalização, torna-se possível cogitar um apoio do PMDB a Lula. A crise política, que envolveu diretamente o PT e os aliados mais à direita - PP, PL e PTB - no escândalo do mensalão fortaleceu internamente a tese em favor da consolidação de uma aliança de esquerda. O PP, por exemplo, já ensaia a maior parte das alianças regionais com partidos à direita, como o PFL. Os aliados históricos do PT, como PSB e PC do B, querem ser os principais eixos de sustentação da coalizão. Outro problema é a ponte que o PT precisa construir com o PDT. O partido está cada vez mais próximo do PPS, dirigido pelo deputado Roberto Freire (PE), um contumaz crítico do governo. "Acho que devemos buscar uma relação mais próxima com o PDT. Já o PPS está com um nítido alinhamento tucano", disse o deputado Mauricio Rands (PE) . Os petistas já procuram interlocutores no PDT. Ontem, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), disse que a votação da cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP) deve acontecer no dia 9.