Título: Com cautela, empresas restringem o recebimento de uva de fornecedores
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2005, Especial, p. A14

Com o aumento das duas últimas safras de uvas viníferas, por conta do crescimento dos preços das variedades tintas como cabernet sauvignon e merlot nos anos anteriores, as vinícolas começam a restringir o recebimento de matéria-prima dos produtores associados para evitar a explosão dos estoques. Em 2003, antes do "boom", a safra alcançou 43,3 milhões de quilos, volume que subiu para 62,5 milhões de quilos em 2004 e chegou a 70 milhões de quilos neste ano. Segundo Antônio Salton, diretor superintendente da Vinícola Salton, a restrição tem sido realizada com cautela para não desestimular os viticultores, não desestruturar a cadeia produtiva e ao mesmo tempo garantir uvas de melhor qualidade. De acordo com ele, a empresa tem 1,2 milhão de litros de vinhos em estoques e em 2005 deve agregar mais 1 milhão, depois de produzir mais 5,2 milhões de litros com a safra 2005. "Estamos orientando nossos 600 produtores a reduzir a produção dos vinhedos restringindo o número de cachos por planta", relata Salton. A medida favorece o desenvolvimento das uvas de melhor qualidade. Nas últimas três safras o grau glucométrico médio da matéria-prima recebida pela empresa subiu de 16,59º Babo para 20,44º. Acima de 19º, já não é necessária a adição de açúcar para atingir o nível alcoólico do vinho, explica. Ao mesmo tempo, o volume de recebimento total de uvas pela empresa recuou de 20 milhões de quilos, em 2004, para 13 milhões em 2005. No ano que vem, o volume deve ficar em 9 milhões - pouco mais de 50% de variedades viníferas. Com uma política semelhante de controle de qualidade, a Vinícola Miolo conseguiu reduzir de 1,5 milhão para 800 mil litros nos últimos três anos os estoques considerados "excedentes" para o fluxo normal de vendas, diz o diretor técnico Adriano Miolo. No total, a empresa tem 3 milhões de litros de vinhos finos estocados e segurou o recebimento de uvas em um patamar em torno de 5 milhões a 5,5 milhões de quilos nos dois últimos anos no Rio Grande do Sul. Em 2005, com a "melhor safra dos últimos 30 anos", a Miolo recebeu uvas tintas com até 23 graus Babo, diz ele. Conforme Miolo, o crescimento do mercado doméstico neste ano, estimado por ele em pelo menos 10%, também deve ajudar a melhorar o perfil dos estoques. Enquanto isso, a vinícola mantém a aposta nas exportações, que em 2005 devem alcançar 300 mil litros, o dobro do volume de 2004 e equivalente a 7% das vendas projetadas no período. Os clientes da empresa distribuem-se por dez países, entre os quais Estados Unidos, Alemanha. França, Itália e República Checa. Em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, a Miolo tem 120 hectares próprios e também recebe uvas de 80 produtores associados. Na região sul do Estado, tem mais 120 hactares próprios, além de outros 200 hectares no Vale do São Francisco, na Bahia. Em Bento, tem capacidade instalada de vinificação de 4 milhões de litros por ano. Na Bahia, o volume pode chegar a 1,5 milhão de litros e será ampliado para 4 milhões até 2008. Em 2007 a empresa instalará uma unidade industrial no sul do Rio Grande do Sul, que chegará a uma capacidade também de 4 milhões em duas etapas. (SB)