Título: Desconto dos dias parados já supera a reivindicação
Autor: Marli Olmos e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2005, Empresas &, p. B6

Os metalúrgicos da fábrica da Volkswagen de São Bernardo do Campo (SP) correm o risco de ter um desconto de R$ 2 mil no próximo salário. A redução seria o resultado de 17 dias úteis parados, caso a Justiça do Trabalho decida pelo abatimento. Os trabalhadores querem uma participação dos lucros e resultados de R$ 5 mil. A montadora ofereceu R$ 4,5 mil. A diferença é quatro vezes menor do que pode ser descontado de seus rendimentos. No final das contas, haverá perdas mesmo que a reivindicação seja atendida. A greve é o terceiro conflito entre empregados e a direção da empresa só neste ano. Em maio, os metalúrgicos realizaram paralisação na fábrica do ABC porque queriam a contratação de, no mínimo, mais 350 pessoas para a área da produção. A Volks não atendeu o pedido, mas teria contratado 200 seguranças particulares para, segundo os trabalhadores, ficarem de olho nos representantes sindicais. Na negociação do reajuste entre sindicato patronal e trabalhadores, a empresa alemã foi a única que rejeitou a proposta que já fixava neste ano o percentual de aumento de salário para 2006. Mas acabou cedendo à pressão dos trabalhadores e assinou o acordo. Esses episódios, que refletem uma posição mais dura da atual direção da companhia no Brasil, trouxeram um clima de insatisfação às linhas de produção da montadora. Prova disso é essa greve. É a primeira vez que os metalúrgicos do ABC paulista cruzam os braços para exigir uma participação nos lucros maior. Wagner Santana, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e vice-presidente do Comitê Mundial de Trabalhadores da Volkswagen, diz que a empresa tem descumprido acordos, o que tem irritado os trabalhadores. "Não é comum fazer greve por PLR. Nas assembléias deste ano foram propostas paralisações pontuais de uma hora para alertar a empresa. Mas os trabalhadores rejeitaram e decidiram pela greve", conta. Em 2004, o sindicato negociou com a Volkswagen a produção do Fox para exportação para a Europa com exclusividade na fábrica de São Bernardo, diz Santana. Era uma forma de dar um gás na produção da fábrica da cidade paulista, que tem convivido com a perspectiva de demissões nos últimos anos. No entanto, segundo os dirigentes sindicais, da meta de 100 mil Fox a serem produzidos neste ano, somente 27 mil sairão do ABC. Contrariando o acerto, a Volks está produzindo 63% desses carros em solo paranaense. Segundo o sindicato, é mais barato produzir em Curitiba, onde os salários pagos aos trabalhadores são 60% menores do que os do ABC. A tensão na fábrica de São Bernardo também aumentou devido à proximidade do fim do acordo de estabilidade no emprego, firmado em 2001 e com validade até o final de novembro de 2006. Em junho do ano passado, sete meses após assumir a presidência da Volkswagen no Brasil, Hans-Christian Maergner avisou que não renovará os acordos de garantia de emprego no país. "Eu não me permito criticar o trabalho de meus antecessores. Eu tenho que viver com essa situação, da maneira como ela é. Mas uma coisa está certa: garantia de emprego não haverá mais. Só sobre o meu cadáver", disse Maergner ao jornal alemão "Handelsblatt". Procurada, a Volks do Brasil não comentou a recente tentativa de conciliação. (RS e MO)