Título: Greve na Volkswagen provoca falta de carros
Autor: Marli Olmos e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2005, Empresas &, p. B6

Montadoras Concessionários temem perder clientes para outras marcas

Sem precedentes na história recente da indústria automobilística do Brasil, o movimento grevista que parou a fábrica da Volkswagen no ABC há 26 dias começou a afetar as concessionárias. Há falta de modelos Volks em diversos pontos-de-venda do país e os vendedores temem que a redução de estoques leve o consumidor a optar por outras marcas. Esta foi a primeira greve dos metalúrgicos do ABC por Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e poderá ser encerrada hoje. Como a negociação chegou ao impasse, a PLR será decidida na Justiça. Numa assembléia marcada para hoje de manhã, os operários decidirão se vale ou não a pena continuar em greve enquanto aguardam a sentença da Justiça. Os concessionários são os que mais torcem pela volta ao trabalho. Embora a greve atinja apenas uma das três fábricas de carros da Volks, todo o sistema de produção, que é interligado, acaba sendo afetado pelo movimento. Faz mais de 10 dias que a revenda Importadora Auto Peças, de Maceió (AL) não recebe Gol, modelo que costumava chegar diariamente, segundo o gerente Carlos Alberto Figueira. O Gol representa 70% das vendas da loja. A produção do Gol, o carro mais vendido pela Volkswagen, se concentra na fábrica de Taubaté (SP), onde a greve terminou no dia 6. No entanto, algumas versões do modelo são produzidas em São Bernardo. A fábrica do ABC também fornece parte dos motores desse veículo para a linha de montagem de Taubaté. Outro modelo em falta é a versão duas portas do Fox, recente lançamento. Embora a linha de produção do Fox concentre-se na unidade de São José dos Pinhais (PR), algumas partes das peças estampadas do veículo são feitas em São Bernardo do Campo, no ABC. O carro não estava disponível em revendas de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná ouvidas pelo Valor na sexta-feira. Aos clientes que procuram Kombi, modelo fabricado na unidade paralisada pela greve, o gerente de vendas da Primo Rossi, Marcos Leite, dá a previsão de entrega de um mês. "O problema é que hoje em dia o cliente não espera; vai para outra marca", diz Figueira, de Maceió. "Não estamos conseguindo entregar sequer os carros prometidos para os clientes há 20 dias", conta a gerente da Discautol, revendedora autorizada de Campo Grande (MS), Vanilda Rodrigues de Souza. "O maior problema é que muitos acham que a greve é uma desculpa nossa", diz. Entre os fabricantes de autopeças, nos últimos dias a maior parte dos pedidos da Volks foi direcionada para a fábrica do Paraná, segundo um grande fornecedor. Ele conta que recebeu da montadora a informação que depois da greve haverá trabalho extraordinário nos fins de semana para compensar os atrasos. A greve em São Bernardo, a maior fábrica da Volks, com 12,6 mil funcionários, ocorre no momento em que a companhia muda o comando na área de recursos humanos. No final deste mês, o vice-presidente da divisão, João Rached, deixará a empresa para trabalhar no HSBC. Rached sucedeu Fernando Tadeu Perez, outro executivo de recursos humanos que trocou a Volks há pouco mais de quatro anos. Rached assumiu o cargo pouco depois que o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, hoje ministro do Trabalho, fechou com a direção mundial da empresa, na Alemanha, um acordo de estabilidade para os empregados da fábrica de São Bernardo. Os sindicalistas dizem que a Volks deveria abrir mais vagas para cumprir a meta de produzir 208 mil veículos neste ano. Nas negociações, o sindicato propôs PLR de R$ 5 mil sem meta de produtividade. A Volks ofereceu R$ 4,5 mil.