Título: Requião culpa União pelo surgimento da doença no Estado
Autor: Cibelle Bouças, Fernando Lopes, Marli Lima e Mauro
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2005, Agronegócios, p. B12

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), culpou ontem o governo federal pelo avanço da febre aftosa. "Compramos 100 veículos, contratamos técnicos, mas nada disso adiantou porque o governo federal não fez a parte dele", afirmou Requião, ao chegar para a votação no referendo popular sobre o comércio de armas. "O trabalho de dez anos foi jogado fora", completou. As críticas de Requião ao governo federal no controle da aftosa começaram a esquentar antes do anúncio da suspeita de focos da doença no Estado. Na terça-feira, em reunião com a equipe de governo, ele anunciou que rejeitaria a ajuda de R$ 1,5 milhão que a União estava destinando ao Estado para o combate ao vírus. "O Paraná não precisa de migalhas, precisa de apoio", disse. Na sexta-feira, contudo, as suspeitas de focos no Paraná foram anunciadas. Pouco afeito a "caneladas" políticas públicas, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ficou contrariado com o governo do Paraná por ter sido informado das suspeitas no Estado apenas minutos antes do anúncio público da situação. Recorreu a exigências e regras internacionais para dar o troco, mas sabe que as animosidades com Requião, que começaram em 2003 por conta do processo de liberação de transgênicos no país, podem esquentar. Na própria sexta-feira, secretário de Agricultura do Paraná, Orlando Pessuti, comunicou que havia a suspeita de aftosa em 19 animais de quatro cidades do Estado - Amaporã (3), Grandes Rios (12), Loanda (3) e Maringá (1). Sem revelar os nomes das propriedades, Pessuti sustentou que elas receberam animais comprados em leilão realizado em Londrina, norte do Estado, no dia 4 de outubro. Lá, o gado teria tido contato com animais vindos de Eldorado (MS), onde foi confirmado o primeiro foco da atual crise. No evento estavam 949 animais, que foram levados para 26 destinos diferentes. "As quatro propriedades estão com a vacinação em dia. Os animais entraram no Paraná, no dia 24 de setembro, e foram levados a uma propriedade no município de Bela Vista do Paraíso, próximo a Londrina, de onde saíram para o leilão", diz a nota distribuída pela secretaria. A suspeita, segundo o documento, foi fundamentada "na constatação de sintomas não-específicos e discretos" nos animais. O resultado dos exames é esperado para esta semana. A propriedade de Bela Vista do Paraíso citada na nota pertence a José Moacir Turquino, dono da fazenda Bonanza, de Eldorado, com 950 animais. "Minha fazenda é vizinha às propriedades onde foram constatados focos [ Vezozzo e Jangada, também de Eldorado, que pertencem a parentes dele], mas o gado de Eldorado e os cerca de 100 animais que ainda estão em Bela Vista estão sadios." Pessuti disse que o Estado está rastreando as propriedades que receberam animais do Mato Grosso do Sul nos últimos 60 dias - quando teriam sido transportados entre os dois Estados 1.994 bovinos (99 provenientes dos cinco municípios interditados naquele Estado), além de 5.320 suínos (já abatidos) e 1 ovelha. O secretário informou que a secretaria irá consultar se há vacina suficiente no mercado e pedirá autorização para antecipar a vacinação, que deveria começar em 1º de novembro. Em maio, 98,8% do rebanho paranaense teria sido vacinado contra a aftosa. Há uma semana, Pessuti já tinha alertado sobre os prejuízos que o país teria caso o vírus se alastrasse.(ML e MZ)